ACTAS  
 
9/3/2014
Falar Claro
 
Dep.Carlos Coelho

Vamos agora para a nossa experiência de comunicação. Vocês são pessoas inteligentes e já perceberam que há um jogo semântico com o título desta sessão, o "Falar Claro”. Nós dizemos "falar, claro” porque não é possível conceber a política sem a comunicação. E queremos todos "falar claro" pois queremos que todos nos entendam.

 

Neste jogo semântico encerra-se aquilo que nós vamos querer dizer-vos nesta comunicação para a qual eu pedi a ajuda do Nuno Matias e do Paulo Colaço. Agradeço muito o facto de eles se terem disponibilizado para me ajudar. Não há política sem comunicação e queremos que ela seja clara.

 

Nesta comunicação sobre o "Falar Claro”, vamos querer incidir a vossa atenção em três componentes. Primeiro, comunicar bem; depois, contactos com a comunicação social; e finalmente 15 conselhos para falar em público.

Vamos, portanto, começar pelo início: comunicar bem. A primeira ideia forte é de que fazer política é comunicar. Porquê? Porque nós vivemos em democracia, não vivemos numa teocracia em que seria o poder religioso a mandar, não vivemos numa ditadura em que é o poder de um só, não vivemos numa monarquia absolutista em que é o rei que manda. Vivemos em democracia portanto é o povo que escolhe através do voto. Portanto, temos de comunicar com as pessoas: essa é a essência da democracia.

 

Comunicar significa que temos de tornar evidente o que está a acontecer, o que se está a fazer, mas na comunicação não estamos apenas a referir o falar, o comunicar, o transmitir, pois a comunicação significa também ouvir, saber quais são os anseios e problemas das pessoas.

Por exemplo, quando eu faço uma sondagem estou a comunicar, porque estou a ouvir os anseios das pessoas, estou a perceber como é que elas se sentem.

 

Em qualquer domínio da nossa intervenção, seja na política, seja na nossa intervenção social, grande parte do nosso sucesso depende da nossa capacidade de comunicar, de falar e de ouvir. Queria que nunca esquecessem que nessa comunicação há três elementos básicos: o emissor, o recetor e aquilo que une os dois é a mensagem.

Neste momento preciso, estou a ser o emissor e vocês o recetor.

 

[O ORADOR FEZ ALGUNS SEGUNDOS DE SILÊNCIO]

 

Nestes instantes deixou de haver comunicação, deixou de haver mensagem. A mensagem é aquilo que une o emissor e o recetor. Imaginem que eu começava aqui a falar numa língua que vocês não entendem: de facto eu estaria a falar mas não estaria a comunicar.

Imaginem o melhor orador do mundo, aquele capaz de vos fazer chorar com emoção ou transbordar de raiva perante as injustiças que queremos alterar no mundo, mas ele é chinês. Estaria aqui a fazer a melhor intervenção da história da humanidade e não tocava nenhum de nós porque, presumo, nenhum de nós fala chinês.

 

Para estabelecer a ligação entre o emissor e o recetor não basta haver comunicação, tem de haver sintonia, temos de nos entender. Essa questão da sintonia é essencial para afinar o sucesso da comunicação. Vocês não falam num lar de idosos da mesma forma como falam para uma assembleia de jovens.

 

Vocês não falam para um conjunto de advogados da mesma maneira que falam para uma coletividade de pescadores. Vocês não usam as mesmas metáforas para pessoas que vivem na cidade do que para um conjunto de pessoas que vive no campo.

Ou seja, a comunicação não é apenas falar a mesma linguagem mas é ter a melhor sintonia para podermos comunicar da melhor forma.

 

Há uma coisa que eu gosto muito de referir, é que há três coisas na comunicação: uma é o que nós queremos dizer, a nossa vontade; outra é o que dizemos; e a terceira é aquilo que as pessoas entendem.

 

Já contei em vários anos uma história verdadeira. Uma vez na Assembleia da República - se forem ver as atas vão ver isso -, este vosso amigo aparece a falar numa intervenção no plenário em S. Bento, sobre o recrutamento de doentes, que é um conceito um tanto bizarro... Acontece que estávamos a falar de educação. Eu acho que disse recrutamento de docentes, mas a menina que estava a fazer a ata escreveu doentes. Pode ter havido um problema da minha dicção e aquilo que ficou para a história no registo da assembleia sou eu muito pomposo a falar em recrutamento de doentes num debate sobre educação.

 

Nunca se esqueçam disso. Na comunicação, o que nós dizemos não é o que nos sai da boca, é aquilo que entra no ouvido das pessoas que nos escutam. O que nós dizemos não é aquilo que nos sai da boca, é aquilo que os outros percebem.

 

Veem aí entre emissor e recetor a lógica biunívoca, isto é: nós falamos, mas também ouvimos. Vocês podem ter a sensação de que vocês estão a ser o recetor e eu o emissor, é verdade, mas o contrário também é verdade. Vocês estão a ser o emissor e eu estou a ser o recetor: estou a olhar para as vossas caras, estou a ver se vocês estão a ouvir, se estão a gostar, se sorriram quando eu disse uma piada e se estão a perceber o que eu estou a dizer.

 

Portanto, sob esse ponto de vista, ainda que não de uma forma verbalizada através da vossa expressão corporal vocês estão a ser emissores e eu o recetor.

 
Paulo Colaço

Obrigado, Carlos. Muito bom dia a todos. Quando vocês se encontram nesta relação que o Carlos Coelho acabou de referir, esta relação triádica de emissor, recetor e mensagem, vocês estão a chegar ao vosso destinatário através de elementos verbais, vocais e visuais. Pergunto-vos qual destes elementos é o mais importante.

Os visuais, muito bem.

Se atendermos à importância relativa destes elementos veremos que os verbais valem 17%, os vocais 38% e os visuais 55%. Isto quer dizer que a relevância das nossas palavras em comparação com a nossa voz é esta que veem neste quadro e que a relação da nossa voz em comparação com a nossa aparência é esta que podem ver.

 

O que é que isto quer dizer? Que o nosso objetivo é passar a mensagem, mas como a nossa palavra vale apenas 17% daquilo que chega aos outros, é importante que os outros elementos - a nossa voz, a nossa aparência, ou seja, os elementos vocais e visuais - não perturbem a que a mensagem chegue ao recetor.

Isso significa que nós temos de ter uma aparência e uma voz que não dificultem a passagem da mensagem.

 

Vemos nesta imagem o Prof. António Damásio, que é um homem muito conceituado na área da neurociência e escreveu um livro que devem conhecer, "O Erro de Descartes”. Descartes dizia "penso, logo existo”, o primado da razão. António Damásio, sem pôr em causa que o cérebro é um centro de racionalidade diz que o cérebro é também – e antes de tudo, um centro operacional de sensações. Acima de tudo o cérebro é isso! E o cérebro funciona por compartimentos; há um compartimento que regula a nossa visão, outro que é responsável pelo olfato, outro pela criatividade e por aí adiante.

 

Por exemplo, as neurociências descobriram que quando alguém fala e direciona a sua vista para a esquerda está a ativar a parte que controla a criatividade e a imaginação; por outro lado, se inclino os meus olhos para a direita estou a ativar a parte do cérebro que é responsável pela memória. É por isso que muitos investigadores dizem que estarei muito provavelmente a mentir se os meus olhos se inclinarem para a esquerda, porque significa que estou a criar e a imaginar o que estou a dizer. Se estiver a falar com os olhos inclinados para a direita estou a fazer recurso à memória, portanto não posso estar a mentir e estou a tentar lembrar-me de algo factual.

 

A neurociência diz-nos também que a memória visual é maior que a memória auditiva. O que significa que mais rapidamente se lembrarão de que eu sou baixo, gordo e barbudo do que sou um génio da palavra. O que é uma lástima.

[RISOS]

Daqui partimos para outro conceito que a neurociência e o Prof. Damásio nos mostram, que é ozoning out. Nesta imagem podem ver uma espiral permanente; se olharem para ela o tempo suficiente vocês adormecem. Distraem-se. Saem desta zona, vão para outro lado, fogem; isto é o que se chama dezoningout.Zoningde zona,outde sair; vocês saem desta zona, vão para outra e já estão a pensar noutras coisas.

 

Isto significa que a rotina leva ao alheamento. Esta espiral perfeita levar-nos-ia a sair daqui. Dando um exemplo: a condução. Quem é que daqui conduz?

Muito bem. Quando conduzem não estão permanentemente a pensar que agora têm de pôr uma mudança acima ou abaixo, por quê? Porque a rotina faz com que já estejam a pensar noutras coisas. Quando conduzem estão a pensar em mil coisas.

 

Se traduzirmos isto para a comunicação podemos dizer que quando há uma rotina, se eu estiver aqui a falar de forma muito monocórdica, muito quietinho, sem sair do sítio, sem haver uma flutuação de voz, vocês apagam, adormecem.

 

Há uma outra coisa importante que o António Damásio nos diz: o estímulo visual chega primeiro à emoção e só depois chega à razão. É uma diferença de meio segundo, mas é o suficiente para quando virem um orador já saberem, antes de ele começar a falar, se gostam ou não dele, se o querem ouvir ou não. Quando ele começar a falar vocês já estão no Facebook, ou no Farmville, ou a mandar SMS, porque primeiro sentiram aquele orador e só depois é que racionalmente o querem aceitar.

Tudo o que acontecer a seguir vai justificar que vocês tenham gostado ou não dessa pessoa inicialmente.

 

Passamos para o conceito desoundbite, de que muitos de vocês já devem ter ouvido falar. Se traduzirmos,soundbiteé um "pedaço de som”. É a frase forte, a frase que se repete, um refrão. Este conceito surge no meio jornalístico nos anos 60, quando os jornalistas faziam citações de intervenções dos políticos, por exemplo, ou um excerto de um filme ou de uma música.

Antigamente, na rádio e na televisão, esses excertos - por exemplo, o discurso de um político, demorava cerca de 60 segundos. Durante um minuto os telespectadores estavam a assistir àquelesoundbite. Hoje, um soundbite, o pedaço de som que os jornalistas cortam para meter no telejornal e na rádio, não é de 60 segundos, é de sete segundos, em média.

 

O que é que isto significa? Se eu não tiver uma boa frase, uma frase extraordinária - curta, boa, incisiva, que resuma aquilo que eu estou a dizer, e que possa ser encaixada naqueles sete segundos que o jornalista vai colher de cada ator político, o que vai passar o que vai passar da minha parte será uma frase curta mas má.

Portanto, como é que se faz umsoundbite? Quando estão a escrever uma intervenção vossa não se esqueçam de, de dois em dois parágrafos, inserirem uma frase curta, boa, que possa ser retirável do vosso contexto sem haver perda de comunicação, de interesse e de objetividade.

 

Há vários exemplos de soundbites: "Nunca erro e raramente tenho dúvidas”, "Geração rasca”, "O país está de tanga”. O nosso Primeiro-Ministro disse há algum tempo atrás: "Que se lixem as eleições”.

Vejam que todas estas frases que aqui estão são frases que não têm sequer dez palavras. São muito curtas e é excelente para um jornalista saber onde vai cortar.

"Esta frase é boa, é curta, posso passá-la no telejornal” e é isso mesmo que acontece. Vejam como fala, por exemplo, o líder do partido parceiro da coligação, o Dr. Paulo Portas. Fala porsoundbites, frases curtas e incisivas.

 

Passamos para o conceito de KISS. Sobre este acrónimo existem várias teorias relativas à sua origem e ao seu significado, mas as duas mais usadas são "keep it simple, stupid”, que é mais ou menos a original; e depois uma adaptação para que não fique tão rude: "keep it short and simple”. O que é que isto quer dizer? Quer dizer nós temos de reduzir a mensagem ao átomo, à sua forma mais básica. Não se esqueçam que temos um recetor e este precisa (tal como o bebé com a papa) de tudo mastigado. Temos de mastigar a nossa comunicação ao nosso destinatário e se o fizermos ele não perde nada do que nós temos a dizer, não divaga para outras informações, chega com a informação pura e simples, como nós a queremos passar.

 
Dep.Carlos Coelho
Nuno, o contacto com a Comunicação Social.
 
Nuno Matias

Bom dia a todos. Na vossa opinião, qual é o nosso objetivo enquanto políticos, alguém sabe dizer? Chegar às pessoas e como é que fazemos isso? Não, ganhando eleições.

 

Objetivamente queremos chegar a mais pessoas, queremos chegar mais longe, queremos que a nossa mensagem, o nosso projeto, a nossa capacidade de entusiasmar os cidadãos que estamos a representar seja objeto de confiança no momento do voto. Mas para isso tem de haver a montante reconhecimento de quem somos, do que representamos e do que defendemos.

 

Para tal, temos de encontrar modos de chegar às pessoas. Objectivamente temos hoje novos meios que o podem fazer, mas a Comunicação Social é vital como intermediário da passagem da mensagem e daquilo que nós queremos que seja uma massificação, o mais eficaz possível, daquilo que é o nosso projeto e a nossa ambição.
Mas para isso é preciso perceber aquilo que é o papel do intermediário nesta massificação, aquilo que são as suas oportunidades que nos abrem, ao fim e ao cabo, mecanismos e meios de chegar aos cidadãos, mas também perceber que a Comunicação Social também não tem necessariamente o nosso objetivo, a nossa agenda. Perceber que se calhar aquilo que para nós é relevante para a Comunicação Social não é o mais importante.

 

Portanto, aquilo que gostaríamos transmitir é a importância de perceber a vantagem, as oportunidades, que a Comunicação Social nos apresenta e de que forma é que podemos fazer desse instrumento vital um meio de chegar mais longe e chegar mais perto dos cidadãos.

Por isso, é preciso saber de facto com quem é que vamos lidar, ter a noção de que o jornalista tem o seu trabalho, mas não faz apenas política hoje em dia, muitas das vezes, e sobretudo na imprensa regional.

Como muitos de vós já tiveram a oportunidade de perceber o jornalista, hoje fala de política, amanhã fala de assuntos sociais, ou de questões internacionais. Objetivamente, tem uma agenda de procurar ter algum sensacionalismo e algum número mais mediático que procure dar visibilidade à publicação quando nós pretendemos é passar uma mensagem clara e objetiva.

 

Por isso, tendo essa premissa em mente é fundamental estruturar tudo aquilo que seja o nosso objetivo enquanto políticos, agentes que querem influenciar a opinião pública, transmitir um conjunto de conhecimentos e um conjunto de mensagens que, como disse o Paulo e muito bem, têm de ser claras, simples e que com isso criem um elo e permita com isso também aproveitar oportunidades de massificar a nossa comunicação.

Aquilo que vamos procurar transmitir-vos é um conjunto de cuidados que devem ter nessa mesma abordagem de comunicação.

 

Começaríamos pela conferência de imprensa. Todos nós e muitos de vós já tiveram certamente oportunidade de pensar como é que vamos aparecer na Comunicação Social e no caso de uma conferência de imprensa nós percebemos que, seja num meio mais pequeno, seja num meio nacional, é preciso perceber em primeiro lugar se temos alguma coisa que seja interessante, estimulante, para um jornalista aparecer. A coisa mais chata é fazer uma convocatória de uma conferência de imprensa e chegar à conclusão de que ninguém nos quer ouvir.

 

Portanto, em primeiro lugar temos de responder à pergunta "será necessário fazer uma conferência de imprensa? Temos de nos perguntar se o tema que está na nossa mente é realmente importante, se já é habitual fazer as conferências de imprensa, ou se o impacto na Comunicação Social é justificativo para utilizarmos esta ferramenta?

A nossa relação com os jornalistas e a preparação atempada, como aqui vêem, tem de haver uma convocatória com tempo, bem como deve haver uma reconfirmação antes da realização para percebermos se realmente vamos ter meio e audiência de forma a conseguirmos passar a mensagem.

 

Temos todo um conjunto de preocupações, a montante, por um lado para perceber se o instrumento é aquele ou se pode ser outro. A ser aquele, que tipo de mensagem é que queremos passar, que tipo de cuidados é que devemos ter na interação com os jornalistas, nas respostas às perguntas que podem vir a ser feitas, mas também todo o ambiente de comunicação que pode vir a ser utilizado.

 

Temos aqui um exemplo que em 2010 utilizámos de um antigo aluno, do António Ribeiro de Matos, que aqui se apresenta ao ler uma declaração numa conferência de imprensa onde é ele e apenas ele e a menos que seja uma pessoa extraordinária, como ele é, não existe mais nenhum estímulo visual que permita também ajudar a complementar ou a acrescentar informação.

Vemos agora aqui de que forma o estímulo visual que acompanha a mensagem pode ajudar também a associar mais alguma capacidade de demonstrar dinâmica, profissionalismo. Com isso, acrescentar também um fator de estímulo, enquanto energia que se procura passar a quem nos vai ver neste caso, mas também nos pode ouvir se for o meio televisão ou o meio som em que aí já não há a questão visual da qual falaremos depois.

 

Aqui temos uma situação diferente. Esta campanha foi realizada por mim em 2007, onde nós queríamos objetivamente passar através da televisão uma resposta assertiva, objetiva, eficaz, irreverente, porque estamos a falar neste caso da JSD, em relação a umas declarações infelizes de um membro do governo que disse num dado momento que um território de um milhão de pessoas era um deserto. Ou deu a entender que era um deserto e nós mostrámos que o único camelo que havia na margem sul por acaso era o animal que estava em frente aooutdoor.

 

Mas isto para dizer o quê? Às vezes também é preciso um chamariz e um número para demonstrar à Comunicação Social que estamos a fazer diferente e que se calhar vale a pena terem mais presente aquilo que estamos a tentar realizar e a mensagem que vamos passar e às vezes esse chamariz pode ser interessante e pode abrir portas a essa atenção e a essa massificação. Mas atenção, a forma é relevante mas sem substância, sem conteúdo vai ser efémero. Porque se chegassem os jornalistas e vissem o camelo, vissem o outdoor e depois nós não tivéssemos uma mensagem estruturada, pensada e devidamente calibrada, tudo o resto depois passaria um bocadinho como a espuma.

Portanto, tenham cuidado também a esse nível na preparação que têm de fazer.

 

Outros cuidados: em relação às entrevistas, pensar o que querem transmitir mas também em relação à imagem, porque nem sempre os jornalistas, nomeadamente a nível regional têm fotógrafos a terem essas fotografias que possam também remeter para a Comunicação Social.

Em relação à rádio tenham atenção à voz, porque objetivamente aí não nos estão a ver, não há expressão corporal, nem uma noção de proximidade ou credibilidade que possa passar na mensagem e, portanto, a voz é fundamental. Seja no tom, seja na forma pausada como articulam as palavras, seja sobretudo também numa lógica que é muito importante ter presente: não leiam, apesar de ninguém vos estar a ver, porque não passa naturalidade na oralidade da vossa mensagem e isso não associa credibilidade, confiança e convicção.

 

Em relação ao som, seja na rádio, seja numa conferência de imprensa, se tiverem uma má qualidade de som não vão certamente ser eficazes naquilo que desejam e portanto testem tudo aquilo que sejam os instrumentos da passagem da mensagem. Em relação ao texto, o Paulo Colaço vai transmitir-vos um conjunto de conselhos.

 
Paulo Colaço

Muito obrigado, Nuno. Devem ter convosco um conjunto de folhas avulsas que se encontravam dentro do vosso livro do "Falar Claro”. São exemplos de três tipos de comunicação escrita que costumamos ter com a imprensa. São elas a convocatória, o comunicado e opress release.

 

A convocatória, como sabem seguramente, serve para chamar a imprensa para lhes dar uma notícia, para passarem uma notícia às pessoas. Uma convocatória não é uma coisa simples. Costumo dizer que uma convocatória é como uma carta de condolências a uma familiar distante: 10% de sentimento, 90% de forma. A forma é muito importante na convocatória. Vocês não imaginam a quantidade de disparates que já aconteceram, de falhas que aconteceram porque numa convocatória alguém se esqueceu de pôr a data, o local, ou a hora, ou o tema.

 

É claro que na convocatória não se pode adiantar muito sobre tema senão o jornalista desinteressa-se pois percebe o que vamos dizer e depois não vai à conferência de imprensa. Tem de haver um chamariz para o tema, ou então um contacto. Quando falta algum destes elementos é um disparate, portanto, aprimorem-se.

Têm no "Falar Claro” os elementos essenciais para uma convocatória, não os esqueçam.

 

Depois, o comunicado que é como uma relação tórrida. Começa nos preliminares e acaba no clímax, ou seja, vocês começam de forma muitosoft, com os factos, depois sobem de tom, apresentam argumentos e no final terminam com umapunchline. Umapunchlineé como um soco, a parte mais forte, a parte para que nós queremos muito chamar a atenção e derrubar os outros com o final do nosso comunicado.

Por que razão isto é assim? Por que motivo começa de forma mais branda e vai crescendo até um clímax? Porque se fosse ao contrário, se começássemos no clímax depois tudo o resto era fraco, tudo o resto era irrelevante perante a grande frase que tínhamos no início.

 

Imaginem a vida de Jesus Cristo ao contrário. Se ele começasse na ressurreição, depois curar o leproso era uma brincadeira de crianças. Portanto, primeiro cura o leproso, transforma a água em vinho e depois morre e volta de novo à vida. Esse é o grande número, é terminarmos em alta.

 

Opress releasetem a estrutura contrária. Tem a estrutura na visão do jornalista. Começamos com o mais importante, começamos logo no início a responder aos elementos mais relevantes da notícia: o quê?, o quando?, o como?, o porquê? e o onde?. Isto nos primeiros parágrafos. Portanto, é aquilo a que se chama "escrita em pirâmide”: de parágrafo em parágrafo, vamos dando informações com cada vez menos relevância. A última informação é a menos relevante de todas. Porquê? Porque queremos que a atenção das pessoas seja permanente. As pessoas que só leem os primeiros parágrafos têm de ficar logo informadas nessa primeira parte do texto. Se perderem o interesse a meio e abandonarem a leitura, já não perdem nada que seja relevante.

 

Nesta escrita, nós temos de ter atenção a alguns elementos. Há elementos que veem noslideque são os importantes e depois há um que é proibido. O que é que é importante? Palavras simples e escrita clara, vocabulário que dominam - não usem vocabulário que não dominam -, o texto adequado ao destinatário, frases e parágrafos curtos, uma média de 15 palavras por linha, cinco linhas por parágrafo e cinco parágrafos por texto.

Procurem a frase certa. Não tenham problemas em refazer as vossas frases. Se uma frase vos parecer forte mas mesmo assim for possível melhorar, melhorem-na.

 

Agora, aquilo que é proibido: enviar um texto sem o reler. Ao relermos um texto podemos verificar o que falta, identificar as redundâncias, corrigir gralhas e melhorar o texto.

 
Nuno Matias

Muito obrigado, Paulo. Passamos aqui, agora, para a televisão e para alguns conselhos.

Como podem perceber na televisão a comunicação não é só a palavra, é também a imagem que associada à palavra ajuda a transmitir não só o entusiasmo, a confiança e aquilo que é o sentir da vossa mensagem. Mas em tudo aquilo que é a vossa imagem associada à mensagem é importante que existam cuidados.

 

Estão aí um conjunto de dados que são de bom senso, mas que é importante relembrar, seja no que diz respeito à roupa pois objetivamente nem tudo fica bem em televisão e nalguns casos, por exemplo os quadrados, podem fazer interferências na imagem e isso prejudica criando ruído de fundo.

Atenção à questão do corpo e da linguagem corporal porque esta ajuda a demonstrar o conhecimento que temos, a confiança e a credibilidade que procuramos transmitir no entusiasmo das palavras.

 

Também devemos estar atentos à questão da nossa relação com a câmara, porque quando estamos a ser entrevistados, sobretudo a tentação seria de falarmos lá para casa, quando a lógica mandaria falar diretamente com o jornalista para criar uma relação mais olhos nos olhos e mais pessoal.

Bem como termos a noção da expressão facial e da boa disposição, não a rir, mas na lógica de expressão de boa energia que passa também na expressão facial que se procura transmitir. Porque toda essa roupagem, toda essa questão corporal, ajuda a acompanhar a mensagem e a dar força a essa mesma mensagem.

 

Isso também é importante que tenhamos presente na própria mensagem. Quando estamos a falar com jornalistas eles obviamente têm um conjunto de questões para fazer. Mas o que é importante? Responder objetivamente e apenas às perguntas, ou é ter estruturado antes quais são as mensagens centrais que queremos passar?

Independentemente das perguntas, termos sempre presente a mensagem que queremos passar e se as perguntas não o permitirem temos de levar as respostas para essas questões e para esses objetivos.

 

Isso é algo que nós antes temos de ter presente. Portanto, um conselho amigo que vos dou é: se aparecer um microfone e não tiverem nada para dizer, ou não tiverem isso em mente, prefiro um minuto de silêncio do que um segundo de asneira, porque acreditem que é essa asneira que vai ficar na mente das pessoas para sempre.

Portanto, falem de forma direta, clara, objetiva, breve, porque como o Paulo e o Carlos disseram, objetivamente a agenda não permite ter o tempo todo que desejaríamos para comunicar, por isso temos de ser eficazes do ponto de vista e preparem sempre tudo.

Para terem uma ideia de até que ponto isso é necessário, temos um vídeo para o demonstrar.

 

[VÍDEO]

 

Se me permitem, antes de passar ao Carlos, reparem que houve um sujeito cujo nome não sabemos nem percebemos qual é a mensagem que ele queria passar, que em dado momento resolveu interagir com alguém e esse alguém estragou-lhe a conferência de imprensa. Ele está a ser recordado por nós certamente não foi pela mensagem mas pela asneira. Pensem nisto quando prepararem qualquer comunicação política.

 
Dep.Carlos Coelho

Muito bem e entramos na última fase do "Falar Claro” que são 15 conselhos para falar em público. O primeiro conselho é não ter medo do medo. Vamos ser claros. É normal ter medo antes de falarmos em público, sobretudo quem não o fez muita vez e mesmo quem o fez quando está em assembleias que não conhece. Em bom rigor algum medo pode ser útil, porque a pior coisa que pode existir a falar em público é o excesso de confiança. A vaidade de quem acha que tem toda a confiança do mundo pode levar a fazer disparates, portanto algum medo pode ser o antídoto contra esse excesso de confiança.

 

Há uma história que gosto muito de contar sobre uma senhora que já morreu há muitos anos, uma diva dos palcos, Sarah Bernhardt. Em determinada ocasião, esta grande atriz estava à boca de cena com uma corista e pergunta-lhe: "A menina está nervosa?”. A corista diz-lhe que nunca está nervosa antes de entrar no palco. A diva responde-lhe: "Pois bem, há de ficar um dia, quando tiver algum talento”.

 

Gostava que tivessem esta ideia presente: o medo é natural, temos é de o controlar. Ele expressa-se de várias maneiras e também expressa-se fisicamente.

 
Nuno Matias

Quando nós falamos as pessoas estão a ver-nos e a questão dos tiques, mas também a expressão corporal, é importante para demonstrar a confiança que temos. Se repararem estou a usar as minhas mãos para tentar transmitir a emoção, a confiança, a certeza, que sinto naquilo que vos estou a transmitir.

Agora, se usarmos as mãos para escape de nervosismo, para tentarmos com isso estar numa posição mais confortável, mas não traduzirmos isso em algo que seja a nossa postura natural e de comunicação, vai criar ruído e vai criar um obstáculo para quem está a olhar para nós e vai ficar cada vez mais atento à forma nervosa ou de tiques de posição que estamos a acrescentar na comunicação.

 

Sejam as mãos nos bolsos, atrás das costas, a brincar com as canetas. Todos nós podemos ter um nervosismo associado à comunicação, mas procurem ter presente que há questões que prejudicam a passagem da mensagem. Mãos nos bolsos, atrás das costas, a brincar com objetos, que a dado momento leva a que todos nós comecemos a olhar para o objeto e não para a comunicação, não ajuda a passar a mensagem.

 
Dep.Carlos Coelho

Se tiverem alguma dúvida, há coisas que não podem mesmo fazer com as mãos porque não parece bem.

Segundo conselho: não atrair os abutres, ser firme. Sabemos que na natureza os predadores andam à volta daqueles que são os mais fracos e acabam por atacar quem é mais fraco, tal como as moscas, são atraídas pelo sangue.

Numa assembleia, as pessoas que estão no ataque são atraídas pela fraqueza. Qual é o conselho: aparentar mais firmeza do que se sente. Mesmo que se sintam muito atrapalhados, não deixem revelar isso, aparentem mais firmeza do que sentem e olhem de frente para as pessoas.

 

Há muita gente que diz que não consegue estar à frente de uma assembleia e estar a olhar para a cara das pessoas, ficam nervosos. Há um truque que usamos, quem não consegue olhar para a vossa cara, olhar para a pessoa que está na última fila a meio, imaginar e fixar num ponto imaginário um palmo por cima da pessoa. Estou aparentemente a olhar para a assembleia e não estou a olhar para a cara de ninguém. O que eu não posso é afundar os olhos no papel, isso dá uma imagem de fraqueza e de insegurança, que é algo trágico.

 

Terceiro conselho: não comecem a falar sem definir o objeto e o intuito. Como o Nuno disse, mais vale um minuto de silêncio do que um segundo de asneira. Antes de falarem pensem no que vão dizer, mas não pensem apenas no que vão dizer, pensem qual é o efeito que querem obter.

Por exemplo, numa intervenção, posso ser racional, posso estar a dar-lhe uma aula, ou posso estar a ser emocional a falar num comício. O estilo de intervenção é totalmente diferente em função do objetivo que eu tenho de audiência. Posso fazer um pedido esclarecimento para enervar o adversário. A lógica do pedido de esclarecimento não é apenas a substância do que vou dizer, é o intuito que eu tenho antes de abrir a boca.

Mesmo naquela figura regimental mais bitolada, mais limitada, que é exposta ao pedido de esclarecimento, quando tenho alguém que me coloca uma pergunta e eu tenho de responder a essa pergunta, figuras que temos na nossa assembleia, tenho uma grande capacidade de intervenção, diria que é plástica.

 

Deixem-me dar três exemplos de como é que nós podemos usar a resposta a um pedido de esclarecimento. Posso usar a resposta a um pedido de esclarecimento para esclarecer, é o mais simples. Quero tornar evidente qual é a minha posição. Vamos ver.

 

[VÍDEO]

 

Foi uma resposta a um pedido de esclarecimento que é apenas uma resposta. Podem responder a um pedido de esclarecimento apenas para esclarecer aquilo que queriam dizer, mas podem responder a um pedido de esclarecimento para mudar de assunto.

 

[VÍDEO]

 

Portanto, o Seguro perguntou ao Primeiro-Ministro sobre ataques ao Tribunal Constitucional e o Primeiro-Ministro muda a conversa para os tribunais constitucionais do resto da Europa e que nesses países o combate ao défice envolve todos os órgãos de soberania e não apenas o governo.

Mas podem usar também a resposta a um pedido de esclarecimento para um contra-ataque. Estão a usar a resposta ao esclarecimento para atacar quem vos fez a pergunta.

 

[VÍDEO]

 

Isto são três exemplos de como o instrumento mais limitado, mais bitolado, tem esta plasticidade. O que é fundamental nunca esquecerem é que antes de falar seja qual for o instrumento em que falem, definem as ideias-chave, qual é o intuito, ordenam ideias e argumentos.

 

Quarto conselho: não ignorem a audiência. Já vos falei do truque de olhar para cima da cabeça da pessoa que está a meio na última fila, que é um truque sempre muito útil. Não ignorem a audiência. Não se esqueçam que discursar é comunicar, é falar com, não é falar para. Portanto, é muito importante essa interação até para ver como é que as pessoas reagem.

 

O quinto conselho é não esquecer que não se ouve um discurso, vê-se um discurso. Portanto, há que representar um discurso, há que transmitir argumentos mas há também que transmitir emoção. Sem que eu possa ser mal interpretado - digo isto sempre que o Paulo Colaço me ouve, porque ele é um bocadinho perverso - fala-se com o corpo, o corpo também fala, mas cuidado com os tiques e também para não apalhaçar.

 

Isto é uma pessoa que conhecem, que já foi muito importante em Portugal e que pode vir a ser no futuro, que se chama António Guterres. O António Guterres tinha um tique que era ajeitar a melena. A determinada altura sempre que ele estava em televisão, ou a fazer um discurso, as pessoas estavam todas a ver quando é que ele tornava a levar a mão à cabeça. Porque era um gesto repetido que ele fazia 15 vezes durante uma entrevista; era um tique que desviava as atenções daquilo que ele estava a dizer. As pessoas olhavam mais para o cabelo e para a mão do que propriamente para a boca e para o discurso.

Nunca se esqueçam que um gesto vale mil palavras e nós sabemos isso bem na cultura portuguesa.

 

Sexto conselho: tenham atenção à vossa imagem. As pessoas só votam em quem confiam.

 
Nuno Matias

Conhecem este senhor? Muito bem. Em 1986, ele candidatou-se com esta imagem a Presidente da República do Brasil. Candidatou-se mais do que uma vez, várias vezes até e sempre com este ar radical, um pouco sindicalista, com a barba um bocadinho por fazer e eu diria que este ar de radical não inspira confiança.

 

O que é certo é que em 2004 percebeu que com uma imagem diferente, com uma postura radicalmente distinta e com uma mensagem claramente mais polida, assim acrescentou razões para que o eleitorado confiasse nele e este é um bom exemplo de como a imagem também é fundamental para acrescentar credibilidade, confiança e motivos para o eleitorado confiar em nós.

 
Dep.Carlos Coelho

Sétimo conselho: não falar sem sentir o que se diz. Não falem sem sentirem o que dizem. Falem do que sentem, da vossa experiência e do que sabem. As pessoas sentem quando se fala com autenticidade e percebem a diferença quando não o fazemos.

 

Vou pedir que vos seja distribuído um papel que vocês conhecem, que é uma tabela de frases. Dizem que se vocês pegarem numa frase qualquer da primeira coluna, outra da segunda, outra da terceira e outra da quarta e juntarem todas as possibilidades que têm nesse papel vocês conseguem fazer dez mil frases.

 

Portanto, com esse papelinho estamos a dar-vos um recurso de comunicação que são dez mil frases, que soam muito bem, mas que não dizem nada. Dez mil frases que vocês podem utilizar se não quiserem dizer nada, não quiserem convencer ninguém e quiserem soar a falso quando falam.

 

Pedia ao Paulo Colaço para ler uma delas, mas vocês podem deliciar-se em ler as outras 9.999 durante os próximos dias.

 
Paulo Colaço
O incentivo ao avanço tecnológico, assim como a cumplicidade dos estudos efetuados, acarreta um processo de reformulação das nossas opções de desenvolvimento futuro.
 
Dep.Carlos Coelho

Isto é fantástico, uma frase muito bonita e que não diz rigorosamente nada.

Uma das coisas de que se fala muito é a lógica dopolitiquês, do economês, das linguagens herméticas e esta linguagem é otecnocratês. São aquelas coisas que parecem muito sofisticadas, mas de facto não dizem nada. Há oburocratêsque é a linguagem que os burocratas usam, tão complicada, tão complicada, que é perfeitamente incompreensível.

 

Vamos ouvir uma charla de um programa televisivo que foi muito conhecido há alguns anos, chamado "Yes, Prime Minister”, em que veem um alto funcionário público, uma espécie de diretor-geral ou chefe de gabinete, transmitir ao primeiro-ministro que tinha conseguido algo.

 

[VÍDEO]

 

Como veem é fácil. Se reduzirmos ao KISS, ao "keep it short and simple”, conseguimos muito mais eficácia na comunicação.

 

O oitavo conselho é que ganhem a simpatia do público, sobretudo no primeiro discurso e se são jovens. Sejam modestos, sem serem humildes ou simplórios.

 

O Rodrigo Moita de Deus, há uns anos, gravou um exemplo de uma primeira intervençãonaïfmas que corresponde a este objetivo.

 

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Ele até se engasgou, não disse nada de substancial mas transmitiu uma imagem de simpatia. A primeira vez que entramos em função às vezes temos tendência de mostrar que somos muito bons, isso pode dar uma ideia de sermos convencidos. Entre o parecer muito bom, ou ser simpático e ganhar a boa vontade dos outros é melhor este registo. Ganhar a simpatia do público, ser modesto sem serem humildes nem simplórios. Entre assustar os adversários, ou ganhar simpatia, é de longe melhor ganhar simpatia.

 

Nono conselho: não sejam chatos, sejam breves e concisos. Não sigam o nosso exemplo, falem menos de 20 minutos e cuidado para não falarem demais. Muito cuidado quando não se fala com papel, pois nesse caso temos tendência a falar demais. Não falem depressa demais: um deputado nosso, uma vez, na Assembleia da República, foi advertido que tinha pouco tempo e em vez de encurtar o discurso decidiu acelerá-lo. Então imaginem o que é falar muito rapidamente, é claro que ninguém percebe o que se está a dizer e torna-se completamente incompreensível.

 

Recusem o discurso redondo. Já vimos há pouco com o "Yes, Prime Minister” e agora um exemplo mais nosso, feito para nós.

 

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Este é o Gonçalo Capitão, foi deputado da JSD e fez aqui um discurso que escrito é muito bonito mas que falado ninguém percebe. O que é que ele acabou de dizer? Ele acabou de dizer isto.

 

[VÍDEO]

 

Nunca se esqueçam do seguinte, a comunicação não é um concurso de elegância, não é uma prova de erudição, mas sim um concurso de eficácia. Vocês não ganham a vossa guerra de comunicação demonstrando que são muito cultos, ou que falam de forma muito sofisticada, mas sim com a eficácia.

 

Décimo conselho: nunca decorem um discurso escrito. As linguagens são diferentes e há sempre um bloqueio psicológico. Acontece aos melhores. Aconteceu com Churchill na Câmara dos Comuns, decorou um discurso, perdeu-se a meio, teve de se sentar com vergonha.

 

Se tiverem um discurso escrito leiam-no, se querem falar sem papel levem notas. Porque se tiverem uma branca passam de uma nota para a outra. Agora, decorar um discurso é a pior coisa que podem fazer.

Há também, o risco de pedir a outro para fazer o discurso. Todos nós pedimos ajuda a amigos. Há amigos que ajudam a escrever-nos peças e não há nenhum problema com isso. Mas quando isso sucede, leiam para vocês antes de lerem em público, porque a linguagem é diferente, há palavras que não sabemos dizer bem.

As pessoas percebem quando não estamos a ser autênticos. A adaptação para nós de um discurso que outros nos fazem, ajuda a evitar que façamos figuras tristes.

 

11º conselho: nunca descurem as defesas. Se tiverem uma intervenção de fundo, coloquem conceitos que todos têm de subscrever, para evitar que alguém depois venha dizer que não concorda com nada do que dissemos. Pois assim temos a defesa de poder dizer: "Não concordou com nada? Mas eu disse coisas como não há solidariedade sem reduzir as diferenças gritantes entre os cidadãos, ou que não há progresso justo em Portugal sem que ele se faça sentir em todas as regiões do país, ou coisas como reduzir as assimetrias de desenvolvimento entre o Litoral e o Interior, o Norte e o Sul, a cidade e o campo, ou referências à informação, à qualidade de vida, ao bem-estar, ao ambiente, ou à transparência da administração”.

Em discursos de fundo, ponham sempre uma componente em que ninguém vos possa atacar. Que ninguém vos possa dizer que não concorda nada com aquilo que dissemos.

 

12º conselho: responder que não se sabe, pois a pior coisa que pode acontecer na comunicação é simular conhecimento. A melhor coisa que qualquer um de nós tem na intervenção cívica ou política é a credibilidade. Quando nos damos ao ridículo estamos liquidados, ou estamos liquidados durante muito tempo.

 

Portanto, quando estamos confrontados com algo que não sabemos é melhor dizer que não se sabe. Há formas elegantes de o fazer. Por exemplo, dizer: "Caro colega, nunca tinha visto esse problema sobre esse ângulo, parece-me interessante, talvez perigoso, ou inaplicável, mas gostaria de pensar mais um pouco antes de me pronunciar”, é uma atitude de prudência.

Ou noutro registo, dizer: "Invocou argumentos novos, que merecem reflexão, se reagisse de imediato não lhe faria justiça. Prefiro valorizar os seus argumentos, pesá-los com outras opiniões e voltar ao assunto na próxima oportunidade”.

Não é a melhor saída, mas é melhor do que ser apanhado em falso, simulando o conhecimento que se tem. Ser desmascarado é o pior que pode acontecer em termos de comunicação.

 

13º conselho: ataquem com firmeza, protegendo a retaguarda. Isto é, não devemos afirmar o que não sabemos, ou aquilo que não temos provas. Uma solução é o "parece-nos que”.

Sei que não é um registo forte, mas é melhor. Por exemplo, imaginem que eu sou autarca e que corre na cidade que o presidente do outro partido está envolvido num escândalo. Interessa-me chamar a atenção para isso, mas não posso correr o risco de ficar sem a retaguarda coberta.

Então posso fazer coisas como esta: "A confirmarem-se os rumores que correm, temos de apurar de apurar responsabilidades e retirar consequências jurídicas e políticas”. Esta é uma frase forte, mas não me compromete. Vejam esta virtualidade da língua portuguesa: se eu dizer "consequências jurídicas e políticas” tem um sentido, mas se eu disser "jurídicas e criminais” é mais acutilante. Porque a palavra "criminal” é mais forte do que a "judicial”.

 

Portanto, ao dizer "ao confirmarem-se os rumores que correm”, eu sou santinho; "temos de apurar responsabilidades e retirar consequências políticas e criminais” estou a trazer para o discurso político algo que corre aí nos corredores sem que ninguém me possa acusa de nada.

Até posso dizer que estamos preocupados com as informações que circulam, que a confirmarem-se são prova da mais grave irresponsabilidade e de aproveitamento ilícito de recursos públicos.

Está o ataque feito, mas temos a retaguarda coberta. Ou dizermos com cinismo, que boatos desta gravidade têm de ser desmentidos sob pena de minarem a credibilidade de autarcas que até prova em contrário devem merecer a nossa consideração.

São formas de atacar com firmeza, protegendo a retaguarda.

 

Penúltimo conselho: nunca ataquem com maldade, doseiem a agressividade, devem evitar ataques pessoas, insinuar com fundamento e clareza e, se formos atacados, devemos representar a indignação e deixar envergonhado quem nos atacou.

Temos aqui um exemplo com o Gonçalo Capitão também. Vamos supor que alguém do PC vos ataca numa assembleia.

 

[VÍDEO]

 

Ora, a pior coisa que se pode dizer a um comunista é que ele está a proferir o mesmo que os fascistas.

Fomos atacados e dissemos que aquilo que eles acabaram de fazer era exatamente o que os fascistas que eles combatiam. É um argumento que põe qualquer comunista fora de si.

Quando queremos atacar, peço desculpa pela expressão mas devemos ser um bocadinho "filhos da mãe”. Um exemplo do Gonçalo Capitão.

 

[VÍDEO]

 

Podemos ser assassinos ao atacar, sendo elegantes, sendo "filhos da mãe” educadinhos, como eu referi.

 

O último conselho é nunca admitam ser inferiorizados por qualquer fator de discriminação, seja ele idade, sexo, cor, orientação sexual, raça, confissão religiosa, seja o que for.

Quando isso acontece devem recorrer à defesa da honra. Um exemplo que o Gonçalo Capitão também gravou é estarem na Assembleia e alguém noutro partido, mais velho, acusava-vos de serem muito jovens e por isso fazerem considerações pouco aceitáveis.

 

[VÍDEO]

 

Numa anterior Universidade de Verão, uma colega vossa disse-me: "Num caso extremo, como é que se reage?”. Imaginámos uma situação em que há uma tripla discriminação - jovem, mulher e preta -; e é atacado por um senhor muito deselegante para com ela e ela fica combalida na Assembleia. Se fosse possível o ideal era que ela tivesse uma reação deste género: "Vejo-o nervoso, agressivo e precipitado, não sei o que lhe perturba mais, se o facto de ser jovem, de ser mulher ou de ser preta; qualquer dos receios, só por si, já o devia embaraçar. Concentre-se no que aqui afirmei e na razão que me assiste, tudo o mais é preconceito que o deveria envergonhar”.

Se ela conseguisse fazer isto ela teria saído por cima. O sangue frio nestas alturas é essencial, ele valoriza a reação e impede o disparate.

 

É a hora de concluir. Tentámos, durante este "Falar Claro”, falar-vos de comunicação com gestos, com atitudes, mas também com palavras. Mas como o Paulo Colaço recordava no início, as palavras podem não ser o mais importante.

Podemos, por estranho que pareça, numa aula chamada "Falar Claro”, comunicar sem falar.

Uma amiga minha disse-me uma vez que as mais lindas frases de amor são ditas no silêncio de um olhar. Se ela tiver razão, mais do que falar o que importa mesmo é saber comunicar. Muito obrigado.

 

[APLAUSOS]

 
Hugo Soares
Bom dia a todos. Vamos então começar a parte das perguntas e respostas. Começa o Grupo Laranja com o João Pedro Lopes.
 
João Pedro Lopes

Antes de mais, bom dia. Queria questionar os oradores sobre um tema específico da minha associação de estudantes e reflete muito bem o papel que queremos ter na sociedade que passa pelo papel que temos na associação de estudantes.

 

Este tema é em específico sobre a minha associação de estudantes, mas pode ser transposto também para o panorama nacional, para o governo.

Assim, considerando que as associações anteriores da minha associação de estudantes desrespeitaram a vontade dos estudantes e não cumpriram com o seu programa eleitoral. Nestes últimos anos não temos assistido a uma posição firme, o que levou a que a direção se tenha tornado demasiado simples, até simplória, na ação desenvolvida. Uma ação não em prol dos estudantes mas em prol pessoal.

 

A grande maioria dos estudantes inscritos não sabe o que é ter uma verdadeira associação de estudantes na nossa faculdade e a direção cai em descrédito face às restantes. Falo por exemplo na academia do Porto, quando todas as outras conotam a nossa associação com descrédito completo e isso também gera uma taxa de abstenção altíssima nas nossas eleições.

 

Como é que podemos motivar os estudantes e neste caso a população em geral quando falamos do governo, para participar no ato eleitoral e acima de tudo participarem num ato de civismo para a associação de estudantes?

 

Porque se uma associação de estudantes é feita para os estudantes deve feita com o contributo dos estudantes e o trabalho deve ser feito para eles. Como é que podemos motivar alguém que não sabe o papel, ou não está a reconhecer o potencial de uma associação de estudantes? Como é que podemos transmitir essa informação?

 
Paulo Colaço

Muito obrigado pela pergunta. Como motivar os outros? É a pergunta dos dez milhões.

Quando os Beatles chegaram a Nova Iorque para dar a primeira conferência de imprensa há um jornalista que lhes pergunta: "Qual é o segredo do vosso sucesso?” e o Ringo Starr, sem pestanejar, diz: "Se eu soubesse o segredo no nosso sucesso fundava outro grupo e era empresário”.

 

O que devemos recomendar (e fazer) sempre é sermos muito ativos, ser enérgicos, propor, estar presente, preparar grupos. Isso é a política.

Se há desinteresse vamos combater esse desinteresse com informação e é isso que recomendo: combatam o desinteresse dos outros com informação, explicando o que existe e como pode ser melhor, quais as vossas propostas. Não há melhor do que isso, estar junto dos outros e informá-los.

 
Nuno Matias

João Pedro, deixa-me dizer-te que todos nós convivemos com aquela frase feita que passa pela sociedade e ouvimos todos os dias: "Os políticos são todos iguais”.

Acho que esse descrédito, essa desconfiança e descrença em quem nos representa tem de passar por nós próprios, demonstrarmos que não somos todos iguais. Isto na política, na associação de estudantes, onde quer que seja, na vida, há pessoas piores e outras com mais motivação, mais valor, mais ética, melhor forma de saber e de estar.

Aquilo que temos de demonstrar é a nossa diferença e se esse descrédito existe por algum protagonista que não cumpre aquilo que prometeu e a sua função de representação, temos de nós demonstrar que há forma de fazer diferente e há forma de demonstrar que não somos iguais e que podemos fazer de forma objetiva que quem puder confiar em nós está à espera, seja na representação, nos atos, na decisão e na responsabilidade. Mas essa é a nossa postura e para isso é que cá estamos, para demonstrar que não somos todos iguais.

 
Hugo Soares
Rita Mouro, do Grupo Azul.
 
Rita Mouro
Bom dia a todos. Hoje em dia, todos sabemos que a Comunicação Social tem um papel muito importante na formação da opinião pública. Numa altura em que o país atravessa uma fase difícil e que a mensagem que o PSD passa é fulcral, um político que seja muito competente naquilo que faz, mas como comunicador tem falhas, está de alguma forma sujeito ao insucesso?
 
Dep.Carlos Coelho

Rita, a resposta é "sim, está condenado ao insucesso".

A sua pergunta tem uma resposta clarinha. No "Falar Claro” não há resposta mais clara. Está condenado ao insucesso, mas agora queria elaborar um bocadinho. Queria que pensassem neste dilema que a Rita colocou, ou seja, temos um discurso com exigência e substância e temos um outro discurso que é vazio mas com eficácia na comunicação. Ou seja, um discurso mais atraente e outro menos atraente.

 

Portanto, estas são as duas linhas. Este é o único campo que nos interessa. É aquela comunicação que tem substância e que é atraente. Essa é a única receita do sucesso. Objetivamente não queremos esta, isto é, aquela que não é eficaz sob o ponto de vista da imagem e não tem substância - essa é a pior -, mas as outras também não são boas.

 

Isto é, podemos ter muita substância mas se não tivermos capacidade de comunicação é ineficaz - aquilo que estava subjacente à sua pergunta - e também não nos interessa ter um discurso muito bonito, aparentemente muitosexymas sem substância, porque isso é a demagogia. Só nos interessa aquilo que está neste quadrado verde. Se nos faltar substância, ou eficácia de comunicação, estamos condenados ao insucesso.

 
Hugo Soares
Sara Lopes Madureira, do Grupo Castanho.
 
Sara Lopes Madureira

Bom dia. O atual governo tem sido acusado de ter problemas de comunicação. Por isso, qual a estratégia utilizada para responder eficazmente às perguntas rápidas que demoram breves segundos onde nos mesmos tem de se passar uma mensagem clara, eficaz e ainda objetiva?

Obrigada.

 
Dep.Carlos Coelho

Hoje em dia temos de ter muitos meios em que temos de ter uma mensagem curta. O Paulo Colaço falou nosoundbite, nos sete segundos, e o Nuno Matias referiu-se indiretamente às novas redes e meios que têm uma limitação de caracteres. São 140 caracteres no caso do Twitter. O que significa que nós temos de nos habituar, na nossa comunicação política, a reduzirmos as coisas.

 

Não está na nossa cultura. Acho que aqui há uns anos num debate destes, já não me recordo se sobre educação, alguém disse que na Alemanha não há nenhum investigador que não faça um doutoramento que não seja capaz de reduzir em cincoslidesdepowerpointa sua tese de doutoramento. Se essa exigência fosse feita numa universidade em Coimbra, teríamos um investigador a perguntar "slides, o que é que é isso?”.

Evidentemente há aqui algum exagero, mas é uma questão de cultura. O nosso Primeiro-Ministro gosta de explicar tudo com muito pormenor. Pedir ao Dr. Pedro Passos Coelho para reduzir a umsoundbite, ele acha que perde.

 

Portanto, há aqui que encontrar oportunidade. Depende de quem temos pela frente. Se vocês aqui me fizerem uma pergunta que eu acho que deva ser bem explicada, azucrino os vossos ouvidos e estou tanto tempo a falar quanto o tempo que acho necessário para vos dar todos os dados. Porque isto é um espaço de formação. Mas se eu estiver com a televisão à frente, não vale a pena eu falar, nem é três horas, é três minutos, porque eu não vou ter três minutos no telejornal, por isso tenho de reduzir.

Respondendo então à sua pergunta: para uma pergunta curta temos de dar uma resposta curta, senão não somos eficazes.

 
Hugo Soares
Ana Rita Reboredo, do Grupo Encarnado.
 
Ana Rita Reboredo

Bom dia. Gostaria de felicitar os oradores pela pertinência do tema que trouxeram até nós, tão relevante na formação de jovens quadros políticos.

 

Vou falar de dois conceitos fundamentais que considero relevantes quando se fala em comunicação, que são eles a persuasão e a manipulação.

A persuasão centra-se no sujeito e os princípios que a regem são liderar e comprometer para ganhar.

Enquanto a manipulação se centra no objeto, objetivando vencer na lógica do "eu ganho, tu perdes”, com recurso ao manejo e à utilização.

 

Consideram que em termos globais o discurso político tem-se centrado ao longo do tempo predominantemente na persuasão ou na manipulação?

 
Paulo Colaço

Essa faz-me lembrar a história de uma empresa que produzia chuchas e preservativos, mas em cada dez preservativos dois eram furados... porque senão não vendiam chuchas.

 

[RISOS]

 

Portanto, persuasão e manipulação, pão e circo, certo? Os dois têm de estar presentes, sempre.

 
Hugo Soares

Esclarecedor.

 

[RISOS]

 

Agora temos a Filipa Antunes, do Grupo Roxo.

 
Filipa Antunes
Bom dia. Por vezes as pessoas falam por si próprias, mas também muitas vezes são a imagem e a voz de organizações. Nesse sentido, quais seriam os conselhos que dariam às autarquias portuguesas para uma comunicação transparente e clara?
 
Nuno Matias

Filipa, é uma noção de proximidade objetivamente. Estamos a falar do poder político mais próximo das pessoas. A maior transparência no exercício de um cargo público é estar disponível para criar elos de ligação que ajudem a representar o exercício das funções.

 

Portanto, quando se ouve falar que um político não está próximo do seu eleitor, não está disponível para o ouvir nem para representar, é porque não existe esse elo de confiança, ligação e formas de contacto. As autarquias são a primeira instância do Estado que tem que criar um mecanismo de representação e de ligação com o cidadão.

Dou-vos o meu exemplo: já fui vereador em Almada e tive uma guerra imensa com a minha Presidente de Câmara, porque eu era da oposição - infelizmente ainda não ganhámos a câmara, há-de chegar o dia.

 

Queria ser um vereador disponível para o cidadão e que os meus cartões de visita tivessem o meu telemóvel à disposição de todos para que todos me pudessem contactar. Objetivamente o gabinete da Presidente da Câmara não deixava eu colocar o número de telemóvel no cartão de visita. Tive uma guerra tremenda durante meses até que finalmente tive acesso a esses cartões.

Isto é um pequeno exemplo, um pequeno ato, um pequeno gesto, que seja num vereador da oposição, seja num vereador com responsabilidades executivas, seja até numsiteda autarquia com disposição de serviços online, ou com informação constante daquilo que é atividade autárquica ou um espaço de participação, é vital para criar este elo de ligação e confiança que tem de ser fortalecido todos os dias.

 

Porque quem está a desempenhar um cargo desta natureza está a representar um conjunto de pessoas alargado, que merece um respeito que tem de existir do ponto de vista de contacto, com meios e instrumentos, que ajudem a potenciar essa ligação, de forma a assegurar que esta noção de eleito/eleitor é fortalecida a cada dia que passa.

 
Hugo Soares
Romão Afonso, do Grupo Rosa.
 
Romão Afonso

Bom dia a todos. Aquilo que se calhar nos mete mais medo, quando começamos na política, são as primeiras intervenções ao fazermos um discurso para um público.

Muitas vezes, fazemos o nossos textos - não temos equipas de apoios - e depois, numa intervenção numa associação de estudantes, ou num plenário, ou numa assembleia municipal, a minha grande dúvida é: como é que fazemos com os escritos, levamos os textos, ou os tópicos? O que é que pode facilitar? Sublinhamos, colocamos a letra maior?

 

Podem dar-nos um exemplo como o do nosso Primeiro-Ministro que o nosso Grupo acha que é um bom orador? Normalmente ele nunca olha para o papel. Gostávamos de saber como é que ele faz isso. Obrigado.

 
Dep.Carlos Coelho

Depende daquilo que vocês quiserem fazer. Deixem-me repetir aquilo que eu disse há pouco: têm de definir qual é o vosso objeto de intervenção. Porque se eu quiser explicitar argumentos, talvez não seja pior levar um argumento escrito. Mas se eu quiser suscitar emoção, falar num comício, não vou fazer um discurso escrito, pois tenho de estar em sintonia emocional com as pessoas.

 

Até posso dizer disparates, mas se eu for ler um discurso escrito para um comício, acabou, ninguém me ouve. As pessoas querem é interagir emocionalmente, gritar, entre outros, portanto a lógica é diferente. Têm de ter em atenção o vossotarget.

É totalmente diferente falarem numa assembleia, ainda que o objetivo seja o mesmo, se for uma de jovens ou uma de velhos, ou se for de pessoas do nosso partido ou pessoas independentes.

Portanto, isso são condições prévias àquilo que vocês querem fazer, depois naturalmente os instrumentos são diferentes.

 

Se forem ler devem levar um texto escrito e como o Romão sugeriu e bem atenção à fonte, porque se fizerem muito pequenino podem ficar naquela posição do ridículo de terem de aproximar o papel e aí já estão a perder.

Não digo que façam fonte do tamanho 36 ou 48, parece-me um bocado excessivo até porque teriam de levar muitas folhas, mas talvez fonte 12 seja pouco. Para aí 14 ou algo do género, para não se perderem.

 

Se quiserem transmitir mais convicção não façam discurso escrito, falem com tópicos. Levem uns cartõezinhos com os tópicos, com frases acessíveis, ossoundbitese o alinhavar das ideias que vocês querem. Depois vão falando de acordo com a vossa emoção.

 

Uma coisa que o Romão disse: o Dr. Pedro Passos Coelho é das poucas pessoas que eu conheço que fala na perfeição. Se vocês transcreverem o seu discurso, não precisam de o alterar porque todo ele é bonito se reduzido a escrito!

Porque a nossa linguagem oral nunca é igual à nossa linguagem escrita. Mas isso não faz a eficácia da comunicação oral, por aquela razão que eu expliquei a propósito do exemplo do Gonçalo Capitão, do discurso redondo e do discurso concreto.

 

Na expressão oral não interessa a elegância dos termos, interessa a sua eficácia. Ora, quando somos muito elegantes – e às vezes o Dr. Passos Coelho é, perdemos eficácia em quem está a ouvir, mas quem lê diz que a pessoa fala muito bem. O que é que é bom nele? É que ele transmite autenticidade, as pessoas percebem que ele não quer aldrabar.

 

Qual é a grande diferença entre José Sócrates e Passos Coelho? É que talvez José Sócrates fosse um melhor comunicador porque falava comsoundbites, mas a malta não o levava a sério porque achava que ele estava a enganá-los; já Pedro Passos Coelho, a malta ouve-o e percebe que ele não está a querer enganá-los, às vezes é explicativo em excesso mas não está a querer enganá-los.

 

Agora, cuidado em tomar isso com um exemplo de comunicação boa para efeitos de oralidade. Aquilo que é um texto muito bem escrito não é necessariamente um texto muito bem falado.

 
Hugo Soares
Ana Araújo, do Grupo Amarelo.
 
Ana Araújo

Olá, bom dia.

Numa assembleia municipal há temas que são transversais a diferentes pessoas. Sendo que falamos de maneira aos diferentes tipos de pessoas, quando numa assembleia temos diferentes tipos de pessoas juntos, como é que fazemos para passar a mensagem a toda a gente?

 
Dep.Carlos Coelho

Ana, aí temos de falar para o maior número de pessoas. Temos que ver o que é que é comum. Ou então temos de tomar decisões. Isto é, vamos supor que vocês são a assembleia municipal, vou falar e isto está aqui dividido entre dois blocos. Remetendo ao debate de ontem, é para o bloco da esquerda e o bloco da direita. Se eu quero falar para todos eu tenho de definir o que é comum.

 

Tenho de encontrar metáforas, linguagens, que são comuns. O meutargetpode não ser esse. O meutargetpode ser ganhar simpatias num dos blocos. Vamos supor que eu quero ser simpático para a esquerda, vou esquecer o bloco da direita, porque o meu objetivo nessa intervenção é ser simpático para a esquerda.

 

Quero irritar o bloco da direita, vou imaginar quais são as mensagens e imagens para irritar o bloco da direita, porque esse é o meu objetivo.

Portanto, depende do objetivo. Se quiser passar mensagens a todos, se quer chatear parte da assembleia, quer usar a assembleia como pretexto, entre outros.

 

Tenho um colega no Parlamento Europeu, que se chama Farage, ele é do partido para a independência do Reino Unido. Quando ele fala no Parlamento Europeu, é-lhe irrelevante o tema que estivermos a debater porque ele faz das suas intervenções pequenos filmes que põe na Internet. É o deputado com mais filmes na Internet.

Portanto, está-se nas tintas para nós. Ele não está a falar para nós, ele está a falar para a Internet.

 

Fez-me uma pergunta e eu vou-lhe responder, Ana, dizendo que a minha opinião sobre o secretário-geral do Partido Comunista, Jerónimo de Sousa, é que é um indivíduo que não tem qualificações e que não sabe o que diz. Você diz-me que não foi isso que me perguntou. Pois não, mas eu não estou a falar para si. Está o José Baptista a filmar-me, eu vou pôr este meu filminho na Internet.

Portanto, o que é que eu digo aos membros da assembleia? Porque eu não estou a falar para eles.

 

O Nuno Matias tem muito mais experiência do que eu. Nas assembleias que são públicas, com destaque público, muitas vezes e quando há tensões, os deputados municipais da oposição não falam nem para os vereadores, estão a falar para o público.

Portanto, aí é irrelevante quem é que está à vossa frente, está bem? Têm é de definir o vossotargete, em função dele, podem deliberadamente falar só para alguns, ou podem falar para todos.

Se quiserem falar para todos têm de ver o que é comum.

 
Hugo Soares
Rodrigo Amaro, do Grupo Cinzento.
 
Rodrigo Amaro

Antes de mais, bom dia. No passado, assistimos, muitas vezes, a uma preocupação desmedida em atacar o adversário em vez de nos preocuparmos connosco próprios e em nos promovermos.

 

Quando estamos em campanha, o que é mais eficaz, é atacar o adversário, ou promovermo-nos? Obrigado.

 
Nuno Matias

Rodrigo, qual é o nosso objetivo? Em que situação é que estamos? Partimos de uma situação de oposição, ou estamos na situação e no poder?

Portanto, tudo depende um pouco do que seja o nosso objetivo, de quem seja realmente o nosso adversário e de qual é a nossa estratégia.

 

Se partirmos de uma situação de oposição, objetivamente que teremos de denegrir, maximizar o que é o nosso sentido de rejeição em relação ao fraco desempenho de quem está no poder.

Se estiveres no poder, objetivamente queres maximizar aquilo que fizeste, as qualidades que apresentas, tudo aquilo que tem sido o teu capital de trabalho, de dedicação, tudo o que pode representar confiança.

 

Portanto, a cada momento, em cada situação, dependendo do contexto em que te inseres tens de pensar na estratégia e qual é o melhor instrumento para maximizar a confiança que queres receber por quem terá de votar em ti.

Por isso, se estás na oposição é uma estratégia que se calhar não vai ser igual a uma situação em que estás a maximizar o teu capital político e de trabalho entretanto desenvolvido.

 

Diria que não é uma regra objetiva, clara, única, e sempre imutável, porque em cada momento, em cada situação, consoante a tua responsabilidade, o percurso e aquilo que é a ambição e o objetivo, necessariamente a estratégia terá de ser adaptada.

 
Hugo Soares
Ana Carvalho, do Grupo Verde.
 
Ana Carvalho

Bom dia a todos. Queria dar os parabéns pela excelente palestra que penso que até agora, a meu ver, foi a mais interessante.

A minha pergunta vai fugir um bocadinho ao tema. Sabendo que vivemos numa era da tecnologia, da globalização, será mais importante a comunicação digital que muitas vezes seguimos nas redes sociais, etc., ou a comunicação de proximidade, de olhos nos olhos? Quais as mais valias de cada uma?

Obrigada.

 
Nuno Matias

Obrigado, Ana. Nós temos de ter em consciência que os novos meios são uma forma de desmultiplicar oportunidades de comunicação que representa que tu és a dona da mensagem. Não existe intermediário, como no caso da Comunicação Social e objetivamente podes ter um conjunto de notícias, de comunicações, de mensagens, de interação com o público-alvo, que no jornal é impossível porque sai uma vez por dia, numa televisão é impossível porque a atenção do jornalista não vai estar focada em ti mais do que um momento e se for esse momento tanto melhor.

 

Portanto, os novos meios têm essa vantagem, permitem desmultiplicar mensagens em vários momentos, num curto espaço de tempo, sem intermediários, sendo tu a dona da mensagem.

Penso eu que todos nós aqui têm Facebook. Reparem, eu por exemplo tenho cinco mil pessoas ligadas no meu. Se em cinco mil, cada um dos meus amigos tiver em média 200, estamos a falar de um milhão de pessoas à distância de um clique.

 

Por isso, é um potencial brutal que nós temos de aproveitar.

Agora, toda a gente tem Facebook? Todas as pessoas que queremos passar a mensagem se dedicam a estar na Internet, utilizando-a como ferramenta contínua?

Há uma franja da população que não podemos esquecer que não tem esses meios.

Portanto, tudo aquilo que seja a nossa comunicação em política tem de ser uma articulação entre aquilo que é um bocadinho tradicional, como um folheto na rua, um contacto pessoal com uma comunidade que em teoria não tem acesso às novas tecnologias, mas não deixar de ter essas oportunidades.

 

Porque estas oportunidades estão na tua mão. Ninguém vai corrigir, ninguém vai intermediar, nem fazer um filtro daquilo que é a tua mensagem. Aquilo que queres passar, és tu a dona dessa estratégia e desse objetivo.

Portanto, os novos meios não são de negligenciar, mas pelo contrário, de se aproveitar porque se acrescenta oportunidade.

 
Paulo Colaço

Só queria acrescentar uma coisa àquilo que o Matias disse - concordando com o que acabou de referir -, que é o seguinte: é importante adequar o meio à nossa mensagem. É preciso ver qual é o nosso foco e ir nesse sentido. E da grande quantidade de meios que temos ao nosso dispor, temos de saber o que fazer com eles.

 

Se nós temos meios, devemos usá-los.

 
Hugo Soares
Lorena Souza, do Grupo Bege.
 
Lorena Souza

A minha pergunta é mais ligada ao poder autárquico e ao poder local. Por quê? Vimos aqui nos exemplos que a questão da aparência vale 55% da análise, vimos a mudança da ex-Presidente Lula da Silva, mas tenho o exemplo no Algarve do Eng.º Macário Correia, cuja característica dele é fazer uma abordagem muito agressiva, com base em ataques mesmo, mas tem a aparência típica da camisa à xadrez, a gravata às bolinhas e ter no bolso as cinco canetas que ele irá precisar.

 

Na vossa opinião, ao nível local deveremos dar mais importância à proximidade com a população, ou tentar abordar cada vez mais a melhoria da imagem para tentarmos cativar também novos públicos?

 
Dep.Carlos Coelho

Lorena, obrigada pela sua pergunta. Vou aproveitar para dar um exemplo que me parece muito feliz. Acho que aí o que mais releva é a proximidade. Tenho imensa pena de não ter aqui a fotografia, estava aqui o Nuno Matias a recordar-me, que o Rodrigo Moita de Deus gosta muito de dar esse exemplo. É o caso de um indivíduo que foi Presidente da Câmara de Aveiro, chamado Hélio, se houver aqui alguém de Aveiro conhece.

 

Quando ele foi candidato a Presidente da Câmara de Aveiro, osmarketing advisorsolharam para ele e disseram-lhe que ele tinha de corrigir alguns aspetos, porque tem um bigode muito farfalhudo, não se veste bem e o cabelo fazia parecer que não tomava banho. Ele resistiu e apareceu nos cartazes como as pessoas o conheciam. Era Presidente de Junta e ganhou a Câmara. Ou seja, se ele tivesse feito um trabalho de travesti político, portanto ficando muito bonitinho, todos iam dizer que ele ia para o poder e já estava a mudar antes de ser eleito.

Aí, portanto, a autenticidade foi mais relevante do que o trabalho da imagem.

Isto não são verdades universais. A comunicação é esta coisa da mensagem, portanto temos de ver o que é que a malta que está do lado de lá quer e quais são os estímulos a que reage.

 

Mas agradeci-lhe a sua pergunta, porque isto permite-me falar na importância da adequação da mensagem à mensagem. Em Cascais o PS contratou uma empresa para ver o que era necessário. A empresa decidiu quais eram as cores, fizeram osfocus groups, as sondagens qualitativas, e quais eram as palavras fortes. Eram todas palavras muito vigorosas: trabalho, dinamismo, empreendedorismo, entre outras.

A dupla candidata a Presidente da Câmara e a Presidente da Assembleia eram estes dois marretas: o Arrobas da Silva e o Germano de Sousa.

Já não consegui tirar fotografias a umoutdoorque eles fizeram rapidamente desaparecer porque uma das palavras forte era juventude.

 

[RISOS]

 

Estão a imaginar esteoutdoorque eles tinham espalhado, a mensagem não colava com a imagem. Isto descredibiliza qualquer comunicação.

Portanto, o essencial é termos coerência.

 

O Macário não é o exemplo que eu tomaria para mim, mas concordo que ele seja coerente, porque as pessoas veem-no e dizem: "Este é o Macário”. É sempre assim.

Num registo diferente, o Alberto João Jardim.

As pessoas gostem, ou não, mas é aquela pessoas daquela maneira, com aquela agressividade, com aquela competitividade e discurso, e isso faz parte da política.

O que não é eficaz é uma pessoa descaracterizar-se, pois não é levada a sério; ou não ser coerente entre a imagem e a mensagem.

 
Hugo Soares

Obrigado, Carlos. Entramos agora na fase "Catch the Eye”.

Começamos já por aqui, que foi a primeira: Ana, do Grupo Cinzento.

Pedia só que durante esta primeira pergunta fossem mantendo as mãos nos ar para que aqui na mesa consigamos tirar os nomes, está bem?

 
Ana Carolina Sousa

A minha pergunta é: em tempos anteriores, a política fazia-se em torno de líderes carismáticos, capazes de mover multidões por virtude da sua oratória.

 

Será o aumento do número de governos tecnocratas, com discursos tantas vezes demasiado técnicos, uma das razões da considerável diminuição do associativismo político-partidário?
Obrigada.

 
Paulo Colaço

Tu dizes que os antigos líderes moviam multidões com o seu carisma e agora se calhar não acontece. Não estou certo que seja assim. Aquilo que move as multidões, para mim, não é tanto o carisma, é haver umlinkentre aquilo que eu digo e aquilo que as pessoas recebem.

 

Os líderes podem ser muito carismáticos, no sentido de terem personalidade, mas depois não haverlinke não emocionarem. Ninguém tem dúvidas de que o Presidente da República é uma pessoa carismática, tem o seu carisma, mas quando fala talvez não leve as multidões que levou há uns largos anos atrás. Hoje, continua a ser uma pessoa com carisma e não leva essas multidões.

 

Aquilo que eu acho é que o importante é termos uma boa mensagem que se associe à nossa personalidade, ao respeito que nos têm com base no nosso trabalho, e depois trabalhar a forma de veicular essa mensagem. Isso é que é importante.

 
Hugo Soares
Marco Correia, do grupo verde
 
Marco Correia

Bom dia a todos. Esta formação de falar claro é-me particularmente agradável de assistir, primeiro porque salvo erro em 2008 o meu primeiro dia da JSD assisti a "Falar Claro” com Carlos Coelho na Maia. Então já assisti a várias versões e em todas elas tenho aprendido mais. Fico assim muito satisfeito, até porque os outros oradores também já assisti a formações de comunicação deles e realmente temos um painel de excelência.

 

A minha pergunta é um bocadinho numa dimensão diferente do que foi falado até agora. Ou seja, já falámos de freguesias, de munícipios, de Assembleia da República, mas perguntava especificamente ao Carlos Coelho os desafios que certamente são diferentes, estando no Parlamento Europeu, ao nível da comunicação. Na comunicação interna, porque existe a barreira da língua, mas também na passagem da mensagem para o país. Porque, julgo eu, que uma das razões das taxas de abstenção, em particular nas eleições europeias é porque nós vemos que a população em geral tem muito pouco conhecimento do que se faz lá.

 

Era um pouco para perceber o que é que se pode fazer, até porque o Carlos Coelho é dos mais ativos em termos de comunicação no Parlamento Europeu, mas nota-se de que a população não tem conhecimento do que se faz lá.

 
Dep.Carlos Coelho

O Parlamento Europeu é um exemplo de que isto das novas tecnologias não é tão eficaz quanto nós às vezes gostaríamos, porque a distância continua a marcar.

Dois mil quilómetros de distância parecem um outro mundo. Alguns de vocês já me ouviram a contar a história de quando fui pela primeira vez para o Parlamento Europeu, era deputado da Assembleia da República e parte dos meus colegas foram despedir-se de mim ao aeroporto porque eu ia para a Europa.

 

Ia fazer dois milquilómetros, ia na segunda e voltava na quinta, portanto não ia um ano para fora do país, e nós somos Europa, mas existe esta noção psicológica da distância.

Ainda hoje quando vou a uma conferência, ou quando estou em contacto com a população há pessoas que perguntam se eu estou lá na Europa. Portanto, estou lá fora. Isso significa que nós não nos sentimos europeus e também significa esta noção da distância.

 

Independentemente das condições de trabalho lá, para o trabalho de bastidor temos de falar noutras línguas para nos podermos entender, mas isso cada um fala as línguas que pode e que sabe. Nas reuniões falamos a nossa língua. Às vezes a tradução não é muito fiel. Aliás, há um dito que é o "tradutor traidor”.

Portanto, por vezes sentimo-nos obrigados a usar uma língua que é de comunicação mais comum, seja ela o inglês ou francês, para não corrermos o risco de sermos atraiçoados.

 

Presidi, como se recordam alguns, a uma comissão de inquérito sobre os voos da CIA e havia nas conclusões uma coisa que eu pensava que era pacífica e as pessoas dividiram-se. As pessoas não percebiam. Eu percebi que havia ali um embaraço. Era uma recomendação à União Europeia, "recomenda-se à UE…”, e aquilo não estava a funcionar.

Tentei perceber o que estava a acontecer e percebi o que era: a proposta de emenda era em espanhol e era uma recomendação aos Estados Unidos, "EU”, ora os tradutores traduziram o "EU” porEuropean Union. Portanto, metade da sala que tinha italianos, espanhóis, portugueses, tinha uma recomendação aos Estados Unidos e a outra metade tinha o mesmo texto a recomendar à União Europeia.

 

Ora, não faz sentido recomendar à União Europeia que feche Guantanamo, porque não é uma competência nossa. Portanto, aquilo não fazia sentido, foi um caso de "tradutor traidor”.

De uma forma geral, o nosso problema no Parlamento Europeu é que não ultrapassamos a barreira da grande comunicação. Por quê? Porque isto não é notícia de capa e as pessoas não querem saber.

 

Já disse algumas vezes e muitos desta sala lembrar-se-ão de contar esta história: equipas de televisão irem gravar-me a mim e aos meus colegas, comcamera man, mais de cinco minutos com a maquilhadora, com o técnico de som e o da luz; quer a SIC, a TVI ou a RTP a gastarem dinheiro, mas depois chega o diretor de política e diz que não, que é mais importante acompanhar a história do cão do Carlos Cruz.

Portanto, isso é um problema que não conseguimos ultrapassar, enquanto não for evidente que a Europa está no centro da decisão.

 

A propósito da Europa nesta recente campanha eleitoral, perguntaram-me o que achava sobre a saída do Reino Unido da União Europeia. Como sabem o Reino Unido pediu um referendo sobre isto. Eu disse que como europeísta preferia que eles estivessem cá dentro, ficando uma União Europeia mais forte. Mas se eles quiserem legitimamente sair, talvez nos façam um favor, porque as pessoas que têm uma atitude negligente, displicente, em relação à Europa, quando virem aquilo que vão pagar pelo custo da saída darão mais valor à nossa presença e portanto darão mais atenção ao que fazemos lá fora.

 
Hugo Soares
Mariana Barata Lopes do Grupo Azul.
 
Mariana Barata Lopes

Bom dia. Durante as eleições para o Parlamento Europeu tive oportunidade de assistir a alguns debates. Aquilo que eu senti é que a ideia é que se vá lá para explicar às pessoas porque é que é importante votar e o que é a Europa. Essa é a ideia principal.

 

O que eu vi é que, na grande maioria, os partidos iam para lá fazer campanha política mas para as legislativas e não para as europeias.

O que é que é suposto? Se eu não soubesse por que é importante a Europa e ir votar e o que é a União Europeia, se calhar tinha lá ido e ficava exatamente na mesma porque ninguém me tinha esclarecido.

 

O que é que é suposto? É mantermos a ideia inicial e estar lá para isso, para explicarmos às pessoas o que é e por que é importante, ou entrar na onda por estarmos a ser atacados e a fazerem campanhas contra nós mas em termos de país, não da Europa? O que é que é correto: mantermos o mote e mostramos o por quê da importante, ou entrarmos na onda daquilo que está contra à nossa volta que não é de todo a razão que nos leva àquele sítio?

 
Dep.Carlos Coelho

Mariana, acho que fez a pergunta mais difícil. Vou ter responder sinceramente, porque se há coisa que prometi há vários anos é ser sempre sincero quando falo convosco. Estaria dividido. Sou alguém que gosta de fazer política com seriedade e numa campanha quero pôr na mesa aquilo que são as questões fundamentais de uma campanha. Mas sou um bocado um político que quer ganhar as eleições, portanto tenho de ver como é que ganho as eleições.

 

Não descaracterizo, nem minto ou aldrabo, para ganhar as eleições, mas se eu perceber que as pessoas estão mais interessadas em ouvir-me falar sobre a política nacional do que a europeia, mesmo numas eleições europeias não posso fugir à política nacional.

Posso, a propósito da nacional, pôr as europeias na mesa para tentar levar as pessoas ao outro assunto. Mas se eu me fechar naquela que é apenas a lógica formal da eleição, posso perder a oportunidade de ser eleito.

 

Portanto, tenho de ir a jogo. Repare, não tenho de trair as minhas convicções, mas não posso deixar de responder àquilo que as pessoas querem ouvir. Nas eleições europeias é evidente isso. Grande parte do eleitorado não foi votar por ser mais ou menos europeu, mas sim pela guerra partidária.

De certa forma, nas campanhas para as europeias, como a abstenção é muito alta todos os partidos estão a falar para o seu núcleo duro. Portanto, estão a falar com as componentes de discurso que sabem que torna melhor a probabilidade de a pessoa ir lá votar.

 

Não é o mais elegante mas é um instinto de sobrevivência. Se eu estiver no deserto três dias sem beber água e me derem uma coisa com água suja, bebo a água suja porque a alternativa é morrer.

 
Hugo Soares
Daniela Duarte, do Grupo Castanho.
 
Daniela Duarte
A minha pergunta prende-se com algo muito simples. O que é mais importante: ser o primeiro a alertar para um assunto, ou ser o primeiro a dar ou criar uma linha de opinião?
 
Paulo Colaço

Quando se começou a falar de fundir/extinguir freguesias em Portugal, recomendei à minha Presidente de Câmara que fosse a primeira a falar do assunto, a primeira a sugerir um mapa e uma metodologia. Por quê? Porque quando somos os primeiros condicionamos a opinião dos outros.

 

Os outros não estão apenas a falar de um assunto, mas a falar do "nosso” assunto, daquilo que nós dissemos e mais, demonstra coragem. Portanto, é melhor agir do reagir. Quem vai reagir já está a dar palco ao primeiro, porque tem de o referir necessariamente. Logo, ao sermos os primeiros marcamos o palco, a luta.

 
Hugo Soares
João Pedro Oliveira do Grupo Amarelo.
 
João Pedro Oliveira

Bom dia. A minha questão também é rápida e simples. Sou do Cartaxo, é um concelho que historicamente é socialista desde as primeiras eleições livres. A minha questão prende-se com o seguinte: neste momento temos um adversário político que entrou recentemente para a Câmara Municipal e a sua estratégia, basicamente, passa por autovitimização. Ou seja, embora pertença ao poder que manteve nos últimos anos, tem essa estratégia.

 

Na minha opinião, o PSD local não tinha sido capaz de manter uma postura que conseguisse contrariar essa estratégia de vitimização. A minha pergunta vai nesse sentido. Nas vossas opiniões, o que consideram melhor: uma postura mais agressiva em relação a essa estratégia, ou tal como está a ser feito agora - e com o qual não concordo - tentar esperar que a população se alerte a si própria. Se isso já tivesse acontecido, já há 40 anos a situação tinha mudado.

Obrigado.

 
Nuno Matias

João, não quero estar a comentar objetivamente aquilo que companheiros nossos do partido entendem ser a sua melhor estratégia. Posso dizer aquilo que eu, enquanto responsável local, também procurei fazer, pois somos objetivamente oposição. Temos de demonstrar, por um lado, que quem está no poder, ou não cumpre, ou não é tão ambicioso, ou não vai de encontro às melhores e maiores necessidades da população e em simultâneo mostrarmos por que somos diferentes e credores dessa confiança, e por que podemos e merecemos ter cada vez mais apoio junto da população.

 

Sempre procurei tentar fazer esta mescla, porque deitar apenas abaixo sem mostrar uma alternativa, também não é sustentável.

 

Era o que eu dizia há pouco: podemos ter uma forma brilhante de ridicularizar o que tem sido feito ou mal feito, mas se não mostrarmos o porquê da nossa alternativa e o projeto que nos permite ser mais ambiciosos e merecer mais apoio, ou seja, forma sem substância, penso eu que não acrescenta.

 

Agora, é verdade que temos de ser acutilantes para demonstrar o mal de quem está no poder, as promessas feitas e não cumpridas.

Recordo-me que aqui há uns anos, enquanto presidente da distrital da JSD, termos feito nas campanhas autárquicas uma campanha deoutdoorsque eram inaugurações virtuais.

Lembro-me de inaugurar um hotel com uma tenda de campismo, porque o Presidente de Câmara tinha dito há quatro anos que ia nascer ali um hotel e passados esses anos eu fui lá inaugurar uma tenda de campismo. Metemos lá um outdoor a dizer da homenagem ao esquecimento autárquico.

 

Portanto, acho que um partido que está na oposição tem que objetivamente mostrar as carências, as promessas não cumpridas, de quem está no poder. É a nossa função, sob pena de estarmos a dizer, por omissão, que eles são muito bons.

Logo, esse trabalho tem de ser feito.

Em paralelo temos de mostrar por que somos melhor e diferentes deles.

 
Hugo Soares

Obrigado, Nuno. Gonçalo Marques, Grupo Roxo.

Só antes deixar o Gonçalo tomar a palavra, deixem-me dizer o seguinte: há sinais de vários grupos que se inscreveram ao mesmo tempo e perguntavam por que ainda não foram chamados. Tentámos daqui, com a dificuldade que evidentemente é inerente a quem está aqui a tentar descortinar quem levanta a mão, não repetir o grupo numa primeira fase.

 

Por isso é que, embora tenham sido os primeiros a levantar, ainda não foram chamados, porque ainda temos alternado as perguntas dos vários grupos.

Voltamos então ao Gonçalo Marques do Grupo Roxo.

 
Gonçalo Marques

Bom dia. Antes de mais, gostaria de saudar a mesa pela intervenção feita. Passando já para a pergunta: verifica-se que atualmente o níveis de abstenção têm tendência a continuar a aumentar e, ao mesmo tempo, a forma de atuação dos políticos permanece constante ao longo dos últimos anos.

 

Assim, não está a população saturada destas técnicas do já normal uso do discurso falacioso, ou será o problema unicamente da população que vive numa sociedade sem vontade, ou mesmo incapacitada para intervir nesta área do quotidiano?

 
Dep.Carlos Coelho

Gonçalo, de facto vocês fazem-nos perguntas que demonstram inteligência mas que não nos facilitam o trabalho.

Acho que é um conjunto dos dois. Primeiro, acho que nós, os políticos, temos responsabilidade, porque estamos a alimentar preconceitos como o de que os políticos são todos iguais, de que são vigaristas, de que não respondem às questões essenciais e multiplicam-se maus exemplos.

 

Depois, tenho a sensação de que muitas vezes o discurso político é muito formal e não estamos a conseguir ganhar a batalha da comunicação. Muitas vezes, vejo os responsáveis políticos entre dois extremos: ou fazem um discurso muito formal, muito cinzento, muito tecnocrático, ou fazem um discurso muito violento, muito populista, muito demagógico.

É difícil encontrar um meio termo. Depois, haverá com certeza responsabilidades do sistema político que não está formatado para responder aos novos tempos.

 

Isto é, numa altura em que você dá a opinião no Facebook e tem em quinze minutos os seus amigos a reagirem, tem um sistema político em que não conhece o seu deputado, o seu presidente da câmara ou vereador, e não sabe quem está na sua junta de freguesia.

Portanto, a lógica entre os eleitos e os representados não está a funcionar da melhor maneira.

Há quem tem teorizado na ciência política, dizendo que agora no meio de uma sociedade que vive para as redes sociais devíamos estar mais despertos para a realidade da democracia direta, a chamadaciberdemocracia.

 

Considero que isso seria um fiasco, pois só uma maioria é que ia participar e o resto ia estar completamente alheado. Portanto, teria ainda mais problemas do que a democracia representativa. Mas admito que haja soluções que não estamos a pôr em cima da mesa para alterar o sistema político no sentido de levar as pessoas a participar mais.

Para ser sincero, há também da parte do eleitorado uma atitude mais displicente do que há uns anos. Quando houve na Europa uma grande rotação de governos tinha surgido pouco tempo antes um instrumento fundamental da tecnologia, chamado comando à distância.

 

Porque antigamente para as pessoas mudarem o canal de televisão tinham de se levantar e iam ao televisor e viravam o botão. Quando foi descoberto o telecomando deu-se esta atitude mais passiva de uma pessoa estar no sofá, carregar no botão e ir mudando de canal. A todos nós, já aconteceu várias vezes não estarmos a gostar nada do que está a dar na televisão e vamos mudar de canal em canal, vendo uns 20 ou 30 canais num instante até vermos um que está a passar uma coisa que gostamos.

 

Uma pessoa muito importante em Portugal, disse-me que achava que o eleitorado estava com essa cultura do sofá: estava sentado no sofá a querer mudar de governos. Havia um conjunto de experiências democráticas que estavam a suceder e portanto nós estamos hoje a viver momentos em que as pessoas estão mais impacientes, querem resposta já, para hoje, para amanhã.

 

Aquilo que ontem disse na pergunta que fiz ao Daniel Innerarity é que há de facto um problema do ciclo. Alguns de vocês sabem o que foi aqui há uns dois ou três anos na sessão de encerramento da Universidade de Verão, virei-me para o Dr. Pedro Passos Coelho e recordei uma coisa que dizíamos quando éramos jovens, quando estávamos na JSD. Dizíamos que havia uma diferença entre o político e o estadista e aqui o político no sentido negativo e não no sentido nobre da palavra.

Qual era a diferença? É que o político tomava decisões a pensar nas próximas eleições, portanto tinha um ciclo de quatro anos e um estadista tomava decisões a pensar nas próximas gerações.

Portanto, tinha um horizonte temporal muito maior.

 

Hoje, grande parte do eleitorado quer que o seu eleito tome decisões a pensar no dia de amanhã, nesta semana, já, ignorando o resto. Há aqui várias componentes. Aqui está uma última para vocês pensarem: como é que vocês, jovens, aqueles que estão na JSD ou então só em movimentos cívicos, que medidas é que podemos pôr em concreto para alterar esta situação, para que as pessoas possam participar mais e para que a abstenção diminua.

 
Hugo Soares
João Barbosa do Grupo Laranja.
 
João Carlos Barbosa

Bom dia. Há pouco mais de um ano o governo português resolveu fazer unsbriefingsdiários, mas tão depressa começaram quanto acabaram.

A pergunta é: qual foi o motivo para os fazer e por que acabaram tão depressa; se foi uma boa ideia, ou se mal executada?

Gostava também rapidamente, se me pudessem, falar um pouco do discurso de José Sócrates, porque me parece um discurso que é redondo. Obrigado.

 
Paulo Colaço

Nós, quando temos uma ideia, ela inicialmente até pode não resultar, mas se não apostarmos nessa ideia e tudo fazermos para que ela resulte aí é que ela não resulta mesmo.

Temos exemplos nas autarquias de pelouros da cultura que lançam concertos, ou atividades, que primeiro aparece uma pessoa, depois duas, e se eles acabarem aquela atividade não lhe dão hipótese para que ela ganhe estrutura.

 

Sabemos por que foram criados osbriefings: havia um problema de comunicação do governo e era preciso combater. A pior forma de combater era com um instrumento intermitente. É óbvio que aquilo foi retirado porque houve uma ou outra argolada que foi metida, mas acho que deviam ter continuado com os briefings porque poderiam ter sido um sucesso, poderiam ter entrado em boa rota.

 

Quando ao discurso redondo de José Sócrates, é um discurso feito por profissionais da comunicação que tem como único objetivo o eleitor. Não é o português, é o eleitor. Porque o português quer que o seu país progrida e avance, um eleitor tem o comando na mão, como dizia há pouco o Carlos.

Portanto, o discurso de José Sócrates é um discurso formatado por profissionais. Obrigado.

 
Hugo Soares
João Luís Ferreira do Grupo Encarnado.
 
João Luis Ferreira

Bom dia a todos. A minha questão prende-se com o seguinte: estando nós a abordar o tema de tipos e formas de discurso e ficando assimilado que uma das características que beneficiam o nosso discurso é a clareza, queria saber a opinião dos senhores, relembrando e exemplificando um ministro, neste caso, Vítor Gaspar, que tinha um tipo de discurso demasiadamente especializado para a pasta que tinha, das Finanças.

 

Queria saber a vossa opinião sobre se o seu discurso estava empregue ou se por outro lado devia ser mais claro, ao invés de ser tão especializado e tão focado para a área que desempenhava. Obrigado.

 
Dep.Carlos Coelho

Vou-vos dizer isto correndo o risco de não sentirem da mesma forma que eu. Quando Cavaco Silva estava para deixar de ser Primeiro-Ministro, o nosso candidato foi Fernando Nogueira, que era presidente do partido na altura.

 

Tive uma conversa com o Dr. Fernando Nogueira, pessoa de quem gosto muito e com quem colaborei e estive a apoiá-lo em campanha, em que ele estava convencido de que o Guterres é que ia ganhar a eleição, aliás como aconteceu.

Ele assumia que as pessoas estavam cansadas do estilo do Cavaco Silva, um estilo mais autoritário, mais seco e queriam um estilo mais quente, mais humano, mais próximo das pessoas, um discurso mais afetivo.

 

Eu disse ao Dr. Nogueira que isso era a sua cara, que ele era isso. Ele disse que sim, mas que as pessoas queriam a mudança total.

Portanto, para mudar mudam tudo, mudam de registo e de partido.

Ele tinha razão, o Guterres ganhou as eleições, embora eu continue convencido de que o Dr. Nogueira teria sido um excelente Primeiro-Ministro.

É isto, as pessoas às vezes querem mudar de registo.

 

Se vocês pegarem no Vítor Gastar, teoricamente, acho que você tem razão. Ele não era a melhor pessoa a comunicar. Mas Vítor Gaspar foi Ministro das Finanças para ajudar Pedro Passos Coelho a pôr o país na ordem depois do desgoverno socialista.

Ora, a malta não queria no Ministro das Finanças um grande comunicador, mas sim um homem que transmitisse a imagem de firmeza, de segurança, de rigor técnico, de qualidade. Isso era o que fazia o discurso de Vítor Gaspar.

 

Portanto, a comunicação é aquilo que é necessário em cada momento. Podem querer num momento a piada ou um registo sério. Naquele momento o registo anormal de Vítor Gaspar - anormal no sentido de extraordinário, de fora do normal - era aquilo que as pessoas queriam, porque era aquilo que lhes dava segurança.

Por isso, vocês na comunicação não podem tirar as coisas do contexto.

 

Deixem-me voltar ao exemplo que eu dei há pouco. Alberto João Jardim e João Bosco Mota Amaral: dois líderes históricos, sendo que um ainda hoje é presidente no governo e Mota Amaral foi durante muitos anos presidente do governo. Ambos criaram a autonomia regional nos Açores e na Madeira.

Não imagino Alberto João Jardim a ganhar uma eleição nos Açores e não imagino João Bosco Mota Amaral a ganhar uma eleição na Madeira.

 

O contexto temporal e cultural justificam que umas coisas possam parecer bem ou que possam parecer mal, sejam eficazes ou não. O discurso de Vítor Gaspar, que a nós hoje pode parecer bizarro foi muito eficaz.

 
Hugo Soares
Alexandre Duarte Silva do Grupo Bege.
 
Alexandre Duarte Silva

Bom dia. A minha pergunta é muito simples. Tal como ontem, que Rui Tavares esteve perante uma audiência que podemos dizer que para ele era adversa, também membros do nosso partido têm estado ultimamente perante climas mais hostis.

Pergunto: nestes ambientes, qual seria a vossa atitude? Ainda acrescento uma pergunta mais pessoal: se estivessem numa comunicação, a meio de um discurso, e se fossem interrompidos por alguma canção como a nossa "Grândola, Vila Morena”, qual seria pessoalmente a vossa atitude, sairiam da sala, cantavam, continuavam normalmente? Qual seria a vossa atitude.

 
Dep.Carlos Coelho

Alexandre, são duas coisas diferentes. Vamos começar pela última. De uma forma geral, se vocês estão num discurso e são interrompidos o recado é que continuem: "os cães ladram, mas a caravana passa”.

Porque a pior coisa que pode haver é vocês estarem a falar e haver uma boca e a determinada altura já estarmos a responder a isso. Estou a falar sobre educação em Portugal e digo que há insucesso escolar e o Alexandre vira-se para mim e diz: "Mas o seu partido é que fez a avaliação dos professores”. Eu interrompo o meu discurso e digo: "Não foi o meu, foi o seu”. Já perdi.

Portanto, ignorem, continuem a falar.

 

Se as interrupções forem sucessivas ou em condições tais que não permitam que continuem a falar, se estiverem no quadro de uma assembleia viram-se para o presidente e pedem para que ponha ordem na assembleia, pois é a função dele. Com firmeza mas com sobriedade digam que não têm condições para continuarem.

 

Agora, nesse registo de boicote - porque o "Grândola” foi um boicote - depende do contexto. Aquilo que eu faria era deixar acabar a canção e voltar. Como aliás aconteceu na Assembleia da República com o Ministro das Finanças, mas depende do contexto.

Em princípio, não sei, a não ser que seja permanente e que se torne evidente que não há condições nenhumas. Nessa altura, tem de se dizer ao microfone que não se tem condições: "Gostei muito de falar para as pessoas que vieram aqui ouvir-me, mas como percebem é impossível continuar nestas condições”; esta é a última coisa a fazer porque é uma deserção, que pode ser justificada mas deve ser a última coisa a fazer.

 

Em relação à primeira pergunta do Alexandre, é muito interessante: "O que é que eu faço quando tenho uma assembleia contrária?”, depende daquilo que é o meu objetivo. Se eu quiser interagir com a assembleia tenho de encontrar pontos comuns.

Vamos supor que vou falar a uma assembleia que está dominada por pessoas do PC, que eu sou convidado amanhã para falar na Universidade de Verão do PC, se eles tivessem uma. Aceito o convite, não vou falar do PSD nem do governo, mas posso falar da conquista da democracia, do 25 de Abril na minha lógica, mas tenho de falar de coisas que sejam comuns.

 

Têm de encontrar linguagens que sejam comuns. Tenho coisas em comum com o PC: somos quadros políticos, somos portugueses, entre outros.

Vamos supor que estou numa assembleia municipal, em que a maioria é do PC e eu quero marcar a divergência, ou para ser notícia, ou para responder à minha bancada, ou para a minha malta dizer que eu sou dos tesos. Aí estou com uma assembleia maioritamente adversa e vou jogar nesse campo da adversidade. Começam a fazer barulho e eu digo que os senhores não são democratas, que querem tirar-me a palavra e são piores que os fascistas antes do 25 de Abril.

 

Já estão na confusão. Depende do vosso objetivo. Numa assembleia adversa, se querem conquistá-la têm de ter pontos em comum, se querem instrumentalizar essa circunstância para retirar outros resultados fazem-no. Depende dos vossos objetivos; é como a comunicação que depende sempre do vosso objetivo etarget, e em função disso é construída.

 
Hugo Soares
Rita Couto Serrenho, Grupo Roxo.
 
Rita Couto Serrenho

Assisti a uma excelente exposição sobre como falar claro e como saber comunicar, contudo o melhor comunicador tem falhas. Quando essas situações menos felizes ocorrem, como devemos reagir?

Como devemos fazer para que caiam o mais depressa possível no esquecimento?

 

Já agora, queria saber também se concordam com a expressão popular de que mais vale sermos falados mesmo que por más razões do que não sermos.

 
Paulo Colaço

Ser falado por más razões só pode bom para quem quer o estrelato só pelo estrelato. Ser falado por más razões e querer o estrelato só pelo estrelato é para a rapaziada que vai aos Big Brothers e esses programas de televisão.

Portanto, não recomendo apostarmos em sermos falados por pura e simplesmente estarmos à procura de estrelato.

 

Quanto à pergunta da falha: há uma falha, é preciso passar em frente. Se falharmos nós sabemos que falhámos. Se continuarmos haverá um ou outro que se percebeu, mas os outros não. Se não pararmos, eles acharão que se calhar foram eles que ouviram mal.

Se tiverem uma falha muito grave, que depois pode ter o problema de ficar na ata, aí, sim, interrompem-se e dizem algo como: "perdão, corrijo” e acerta-se.

 

Quando aos problemas habituais do nervosismo, etc., é a experiência que nos dá tranquilidade. Claro que há coisas que nem a experiência dá. Às vezes as pessoas por muito experientes que sejam ficam nervosas. O nervosismo tem que ver também com a responsabilidade. Quem não sente nervosismo é porque se calhar não sente o peso da responsabilidade do que está a fazer.

 
Hugo Soares
Sara Garcez, Grupo Cinzento.
 
Sara Garcez
Bom dia a todos. Há bocado já tivemos os 15 conselhos para falar em público e o que eu gostava de saber é quais são os melhores exercícios para fazer em casa, como é que podemos melhorar a nossa postura e também os nossos discursos.
 
Dep.Carlos Coelho

Sara, de facto vocês só fazem perguntas difíceis. Isto é como andar de bicicleta: a primeira vez que vocês andam de bicicleta têm muita dificuldade em ganhar o equilíbrio; a segunda vez já andam melhor mas têm alguma insegurança no guiador; e a terceira, ou quarta, quinta vez, é que começam a descer ladeiras, a fazer BTT e coisas mais arrojadas.

 

Portanto, falar em público é a mesma coisa. Agora, depende das pessoas. Detesto ver-me na televisão. Acho horroroso, mas algumas vezes tenho de ver.

As pessoas dizem-me que estive bem numas coisas e mal noutras. Para eu fazer a minha própria avaliação vou ver a gravação, apesar de detestar ver-me, mas aprendemos sempre com os erros.

 

Antigamente dizia-se para falar-se para o espelho. Mas ao falar para o espelho é no imediato, por isso a coisa não funciona. De facto, falar para a câmara é mais intimidador e portanto funciona melhor no teste.

Para quem tem problemas de dicção há diversos truques: falar com uma rolha na boca para melhorar a dicção, entre outros. A dicção é muito importante porque nós estamos habituados à nossa voz e achamos que falamos sempre bem. Portanto, precisamos de um amigo que seja verdadeiramente um amigo e que nos diga onde é que estivemos mal.

 

Todos os números que faço, mesmo qualquer exercício pedagógico como este, peço sempre a amigos que sei que não me mentem para que me digam se foi bom e sobretudo o que posso corrigir e o que não foi bom.

 

A primeira vez que dei uma entrevista para a Rádio Renascença, tinha 17 anos e era dirigente da associação de estudantes, estava todo orgulhoso, cheguei a casa e perguntei à minha mãe se foi bom. A minha mãe disse: não percebi nada do que disseste. Eu estava tão nervoso que falei depressa demais e a minha dicção não foi boa.

Ora, se a minha própria mãe não percebeu o que eu disse, o que terá acontecido com as outras pessoas? Foi um insucesso de comunicação. Portanto, precisamos de alguém que nos ajude.

 

Não se preocupem tanto com exercícios, mas preocupem-se em ter alguém que vos possa ajudar a dizer o que é que pode ser melhor, o que é que não correu tão bem. É melhor não perguntarem o que é que correu bem, porque os amigos dizem sempre que estivemos muito bem; perguntem o que é que correu mal e sobretudo o que é que pode ser melhorado. Porque é isso que nos pode fazer melhorar.

 
Hugo Soares
Obrigado, Carlos. Luís Pinho da Costa do Grupo Castanho.
 
Luis Pinho da Costa
Bom dia. Não é uma questão diretamente relacionada com a forma de comunicar mas sim quanto à comunicação do partido para o país. Cada vez mais vemos movimentos de cidadania a ganharem protagonismo: são uma ameaça, uma oportunidade, como é que o partido e a JSD deve ver esses movimentos?
 
Paulo Colaço

São uma ameaça ou uma oportunidade? São as duas coisas.

São uma ameaça porque estas associações, estes grupos de lista, não têm um programa, não têm um fio condutor e hoje podem defender a pena de morte porque há um problema de violação de menores numa creche, mas no dia seguinte havendo outro problema qualquer já dizem que a pena de morte é má. Portanto, não têm um fio condutor e assim são uma ameaça porque não têm regras nem um programa.

Podem ser populistas à vontade, como acontece com outros partidos que o são, mas nestes há um programa pelo qual respondem.

 

Contudo, também são uma oportunidade, pois se não for esta concorrência nós não mudamos e os partidos precisam muito de mudar. Precisam de mudar a forma de comunicar, a forma de recrutar elementos, a forma de contactar a população, de pedir e fazer chegar contributos.

Se não tivermos concorrência nós não mudamos. Por isso, os grupos de cidadãos são uma ameaça pelo populismo e são uma oportunidade porque são um "abre-olhos”.

 
Hugo Soares
Tomás Portas do Grupo Encarnado.
 
Tomás Portas

Seguindo a linha de pensamento do meu colega que falou da abstenção, vou aproveitar e desviar-me um bocadinho do tema.

Vou fazer uma pergunta algo pessoal sobre um tema em que me tenho debruçado que é o direito de voto. Ele falou da abstenção motivada pela falta de clarividência e eloquência dos políticos; sabendo disto, consideram que o direito de voto deveria passar a ser uma obrigação e o resultado era de quem não votasse era sujeito a coimas?

 

Poderia isto fazer com que as pessoas que geralmente não votam, votassem e fossem às urnas e em vez de votarem em branco optassem por um partido? Era só isto.

 
Dep.Carlos Coelho

O Tomás revela que é uma pessoa muito inteligente, sagaz e com muito engenho, mas não vai ter daqui da mesa nenhuma ajuda para o exercício de simulação de assembleia.

Porque um dos temas das simulações de assembleia é exatamente esse e portanto nós não vamos fazer o vosso trabalho. Cumprimento a inteligência do Tomás mas fica para a próxima.

 

[RISOS]

 
Tomás Portas

Por acaso nem me lembrei dessa.

 

[RISOS, APLAUSOS]

 
Hugo Soares

Agora, além da inteligência, demonstrou que quis fazer de nós tontos, não sei se perceberam. [RISOS]

David Gonçalves Pereira do Grupo Azul.

 
David Gonçalves Pereira

Muito bom dia. O Paulo Colaço falou há pouco sobre a comunicação política ter de mudar e recordei-me de uma entrevista em que o Fernando Moreira de Sá deu acerca de um ano à Visão ou à Sábado, sobre a forma de disputa interna de Passos Coelho no partido e a forma como a comunicação foi manipulada, sobrebloggerse etc.

 

Tendo isto como contexto, a minha pergunta é a seguinte: não corremos o risco de a fórmula da comunicação política sofrer de tal forma uma mudança com osoundbite, que proporcione e provoque um vazio de ideias e de pouca discussão de ideias?

 
Dep.Carlos Coelho

Sobre o Fernando, vamos lá a ver: essa reportagem provou bem que tudo o que é manipulação - voltando aliás a alguém que falava na persuasão ou na manipulação -, ou pode ser feita sendo completamente adjetiva, isto é acessória, ou acaba de se virar contra quem faz.

As pessoas não gostam de ser manipuladas e quando é evidente que houve manipulação, volta-se contra quem fez a manipulação.

Essa história que você contou resultou da revelação de um conjunto de mecanismos, que muita gente faz, como as agências de comunicação, para manipular as redes sociais.

 

Ora, isto é trágico, quando se volta contra quem o faz. Portanto, atenção, acho que de uma forma geral não devemos manipular. Não gosto da manipulação e abomino a manipulação emocional, tirar partido de momentos em que as pessoas estão aflitas para tentar levá-las a abraçar politicamente coisas que não fariam.

O exemplo clássico é: eu sou convictamente contra a pena de morte; se houver um pedófilo que viola e mata uma criança de seis anos, isso leva uma comoção e levar esse ambiente emocional para tentar reinstalar a pena de morte é o exemplo da tentativa ilegítima de apropriação de um momento emocional para alterar a lei penal.

Portanto, esse tipo de coisas acho completamente detestáveis e devemos pura e simplesmente recusar.

 

Sobre a outra pergunta, volto ao que disse há pouco. Não devemos ter nenhum pudor de utilizar meios de comunicação que são técnicas, como aquela dosoundbitede que o Paulo falou. Mas o que não podemos é deixar empobrecer o nosso discurso.

Portanto, naquele quadro com os quatro quadrantes temos de ter a comunicação onde há substância e onde há eficácia. Se voltarmos a um estilo de Sócrates onde só temossoundbites, a comunicação é muito bonita, mas aquilo é ineficaz porque mais tarde ou mais cedo as pessoas percebem que aquilo não tem sumo.

 

Se formos muito honestos intelectualmente, com a melhor mensagem mas sem capacidade de comunicação ninguém nos dá valor. Se formos maus em tudo então estamos no caixote do lixo nesta competição. Só ganhamos se tivermos substância e se tivermos eficácia de comunicação e se não deixarmos que uma coisa não aniquile a outra.

Portanto, para nós não é solução dizer: temos aquisoundbitesfantásticos e não temos substância; estamos assassinados mais tarde ou mais cedo.

Naqueles quatro quadrantes só nos interessa aquele que era verde: a nossa comunicação com substância e com capacidade, com eficácia na comunicação.

 
Hugo Soares
Rodrigo Camacho do Grupo Amarelo.
 
Rodrigo Camacho

Olá, bom dia. Esta pergunta é dirigida ao eurodeputado Carlos Coelho. Uma coisa que me faz bastante impressão nestas eleições europeias, além de não se falar muito sobre a Europa em si, foi o facto de votarmos PSD, PS, CDS, por exemplo e não votarmos em Partido Popular Europeu, Socialistas da Europa, por aí adiante.

 

A mim faz-me um bocado de confusão, por exemplo, se eu quiser votar nos Liberais da Europa porque é um partido que não tem representação em Portugal. Portanto, o que eu pergunto é se não faria sentido passarmos a votar nos partidos europeus em vez de votarmos nos partidos portugueses para as eleições europeias e nem sequer falarmos em pessoas como Jean Claude Juncker, por exemplo, que no fundo é uma espécie de Primeiro-Ministro da Europa e foi uma pessoa que nem sequer foi mencionada nos discursos políticos, nem no dia-a-dia, durante as nossas eleições.

 
Dep.Carlos Coelho

Rodrigo, muito obrigado pela pergunta, embora ela seja claramente fora do "Falar Claro”.

Vou responder e vai ser a última resposta, depois nós os três vamos sair para que possam seguir com os procedimentos habituais.

 

Rodrigo, depende também de qual é o nosso paradigma. Se for um federalista então o que acabou de dizer faz todo o sentido, quer votar num partido europeu, nas forças políticas que se perfilam na Europa.

Agora, se não for federalista e pensar na Europa como sendo de nações, uma federação de Estados-Nação, você quer votar nos deputados portugueses. Porque o meu voto em muitas matérias do Parlamento Europeu é um voto contra o PPE. Porque o PPE tomou uma posição que é contra Portugal, ou que é a favor de uma solução que não interessa a Portugal.

Vamos tentar construir uma maioria com outras nacionalidades para votar em Portugal.

 

Em grande parte das votações o meu voto é exatamente igual ao voto do João Ferreira do PC, ou da Ana Gomes do PS. Por quê? Porque não há diferenças entre o CDS e o PC? Não há diferenças entre nós e o PS quando Portugal está em causa. Todos somos portugueses, todos votamos da mesma maneira. O Parlamento Europeu é um parlamento diferente de um nacional. Há muitas matérias em que o interesse nacional prevalece sobre as diferenças ideológicas, ou sobre as famílias políticas.

Isso faz com que o mandato com que eu vou para o Parlamento Europeu me dê capacidade para votar por Portugal porque você votou no PSD, ou na Aliança Portugal no caso, mas votou nos nossos, na nossa bandeira, e não no PPE.

 

Se eu for eleito com a bandeira do PPE estou submetido a uma disciplina partidária muito mais importante. Depende do nosso conceito, se quisermos uma Europa federal a sua conclusão é correta, o nosso sistema eleitoral é incorreto pois não permite votar nas diferentes forças políticas. Grande parte das medidas europeias acabam por não serem discutidas por não estarem em cima da mesa.

Se você tiver uma ideia da Europa como uma federação de Estados-Nação, então tem de se conformar com o sistema eleitoral que temos que é o que ainda permite essa legitimidade.

 

Estou entre uma posição e outra. Gostaria de ter uma lógica um bocadinho mais europeísta do que aquela que temos hoje, mas não quero perder a lógica de que estou lá a representar Portugal e os portugueses. Não quero que esse mandato de representação seja aniquilado, ou seja subvalorizado, por uma disciplina partidária europeia que pode não ser a mais relevante para nós.

Muito obrigado pela vossa atenção.

 

[APLAUSOS]