Que deve a União Europeia fazer para resolver o problema da Ucrânia?
Reconhecer o óbvio: (i) que há uma guerra na Ucrânia; (ii) que nem sempre as sanções comerciais influenciam de uma forma decisiva o processo de decisão de uma liderança (neste caso a da Rússia) que entende que os seus interesses estratégicos estão ameaçados e que vê nos acontecimentos em Kiev uma ameaça ao seu poder interno; (iii) Caso seja do interesse do governo e da maioria da sociedade ucraniana, apoiar o país do ponto de vista político e económico;
Portugal deve potenciar os seus recursos naturais e o seu posicionamento geográfico. O EuroAtlantismo é cada vez mais uma realidade e são apontados imensos benefícios, inclusive para Portugal. Contudo, a longo prazo não poderão existir problemas de segurança derivados das diferenças sociais?
O euro-atlantismo que pode estar a caminho via TTIP/NATO/zona euro/UE precisa de ser bem compreendido e explicado. Temos uma tradição de não fazer o nosso trabalho de casa em muitas destas matérias. Os problemas não são tanto as diferenças sociais mas sim (i) a ausência de oportunidades que permitam às pessoas concretizar os seus sonhos e, (ii) a falta de confiança generalizada da sociedade nas instituições e nas elites.
Para os conflitos de guerra tem sido benéfico usar do "hard power" em vez do "soft power"?
Nos últimos vinte anos foi criada na Europa a ideia de que o Poder girava à volta de coisas como: a) as instituições internacionais; b) poder económico-financeiro; e c) o "soft power" - o poder de influenciar através do exemplo. As guerras envolvem sempre o uso deliberado de um outro tipo de poder - a força armada. Os decisores e as sociedades que aceitam isto terão surpresas muito desagradáveis. É uma questão de tempo.
A tensão existente entre a Ucrânia e a Rússia pode afectar o estado económico e social de Portugal?
Não, desde que a Rússia continue empenhada apenas na actual guerra limitada pelo controlo do sudeste da Ucrânia. Moscovo, todavia, continuará a usar a sua influência nas capitais do sul da Europa para moderar os países da Europa central no processo de decisão dos Conselhos Europeus. Os acontecimentos obrigarão quase de certeza Portugal a repensar algumas das suas opções ao nível político-militar no quadro da NATO.
Perante a nova aliança EUA / UE qual o papel que Portugal poderá ter na geopolítica internacional?
É provável que o relacionamento dos EUA com a UE venha a assentar na Parceria Transtlântica para o Comércio e Investimento (TTIP) e de uma forma indireta na NATO. O papel geopolítico de Portugal dependerá: a) da sua permanência na zona euro; b) da sua capacidade para atrair investimentos e ser uma plataforma logística-energética; c) da contribuição para a segurança aero-marítima/naval no Atlântico.
Quais poderão ser as implicações para a política europeia com o conflito na Ucrânia?
Dependerá muito de: (i) objectivos políticos de Moscovo; (ii) da maneira como Kiev vai reagir a estes objectivos; (iii) da avaliação que as principais capitais europeias e Washington e os seus principais aliados (Japão e Coreia do Sul, por exemplo) vão fazer. Dito isto, o assalto russo à Ucrânia é um choque estratégico para a Europa. Muito daquilo em que as lideranças e as sociedades europeias acreditaram nos últimos vinte anos, está obsoleto.
Podemos dizer que actualmente há uma guerra na Europa? Até que ponto poderão chegar as consequências a nível económico, político e militar do confronto na Ucrânia?
Dependerá muito de: (i) objectivos políticos de Moscovo; (ii) da maneira como Kiev vai reagir a estes objectivos; (iii) da avaliação que as principais capitais europeias e Washington e os seus principais aliados (Japão e Coreia do Sul, por exemplo) vão fazer. Dito isto, o assalto russo à Ucrânia é um choque estratégico para a Europa. Muito daquilo em que as lideranças e as sociedades europeias acreditaram nos últimos vinte anos, está obsoleto.
Enquanto especialista em relações internacionais como vê o conflito entre a Ucrânia e a Rússia?
Como um excelente exemplo da importância da geografia na política internacional. Ninguém deve falar sobre o assunto sem ter bons conhecimentos geográficos; (ii) Como uma tragédia para a Ucrânia - o território mais sangrento da Europa no século XX; (iii) O conflito porá quase de certeza fim ao processo de desnuclearização na Europa e a nível internacional. Kiev prescindiu do seu arsenal nuclear a troco de garantias de segurança da Rússia e dos EUA. Será que o assalto à Crimeia e a guerra limitada a que estamos a assistir no sudeste da Ucrânia teria tido lugar se Kiev tivesse o seu arsenal nuclear? (iv) Como um sinal de forte consolidação do poder interno de Vladimir Putin e dos seus aliados. É possível que Dmitri Medvedev seja afastado do cargo de Primeiro-Ministro nos tempos mais próximos; (v) A orientação política e económica da Rússia será mais asiática; (vi) Por fim, como um sinal do isolamento internacional da Rússia. Quantos alunos da Universidade de Verão querem ir estudar para a Rússia? Suspeito que muito poucos. Se falarmos dos países europeus, dos EUA, da Coreia do Sul ou da China, as respostas devem ser muito diferentes.
Quais as perspectivas em matéria geopolítica e geoestratégica dos conflitos na guerra do Médio Oriente?
As perspectivas são penosas. Uma parte substancial da resposta depende muito do que a Arábia Saudita e o Irão vão fazer. A rivalidade geopolítica e religiosa entre estas duas potências regionais explica muito do que estamos a ver. A outra parte, dependerá muito da capacidade de os governos satisfazerem as necessidades e as aspirações de uma população muito jovem. A importância do Médio Oriente em Portugal parece-me ser exagerada.
Sendo da área de relações internacionais, como vê o processo de internacionalização das PME's em Portugal? Considera isso um caminho indispensável para o sucesso?
A margem de manobra e a influência internacional depende sempre da capacidade de um país criar riqueza. Portugal precisa de atrair muito mais investimento directo estrangeiro e criar uma ecologia política e económica que permita às suas PMEs crescer e exportar para novos mercados. Correndo o risco de simplificar, isto exige pelo menos duas coisas - (i) acesso a financiamento a um preço igual ou parecido com as outras PMEs da zona euro; (ii) a sobrevivência da globalização. Dito de outra forma, as regras da ordem internacional económica são muito importantes para nós.
No actual contexto e tendo em conta a sua passagem na Fundação Luso Americana para o Desenvolvimento, qual é a sua visão relativa à relevância deste tipo de organizações?
A FLAD foi e é uma instituição indispensável para a defesa dos interesses permanentes de Portugal no seu relacionamento com os Estados Unidos da América;