PERGUNTA A ...
 
 
     
Miguel Monjardino
 
Nádia Pires
Portugal e a Europa enfrentam uma crise social, economica, demografica, seria a via maritima uma solução?
Voltando à geografia, um país que ignora a sua geografia e as lições da história é sempre mais pobre. Mas o mais importante é reformar o país.
Hugo Ferrinho Lopes
Que deve a União Europeia fazer para resolver o problema da Ucrânia?
Reconhecer o óbvio: (i) que há uma guerra na Ucrânia; (ii) que nem sempre as sanções comerciais influenciam de uma forma decisiva o processo de decisão de uma liderança (neste caso a da Rússia) que entende que os seus interesses estratégicos estão ameaçados e que vê nos acontecimentos em Kiev uma ameaça ao seu poder interno; (iii) Caso seja do interesse do governo e da maioria da sociedade ucraniana, apoiar o país do ponto de vista político e económico;
Ana Lourenço
Portugal deve potenciar os seus recursos naturais e o seu posicionamento geográfico. O EuroAtlantismo é cada vez mais uma realidade e são apontados imensos benefícios, inclusive para Portugal. Contudo, a longo prazo não poderão existir problemas de segurança derivados das diferenças sociais?
O euro-atlantismo que pode estar a caminho via TTIP/NATO/zona euro/UE precisa de ser bem compreendido e explicado. Temos uma tradição de não fazer o nosso trabalho de casa em muitas destas matérias. Os problemas não são tanto as diferenças sociais mas sim (i) a ausência de oportunidades que permitam às pessoas concretizar os seus sonhos e, (ii) a falta de confiança generalizada da sociedade nas instituições e nas elites.
Diogo Pessoa Freire
Para os conflitos de guerra tem sido benéfico usar do "hard power" em vez do "soft power"?
Nos últimos vinte anos foi criada na Europa a ideia de que o Poder girava à volta de coisas como: a) as instituições internacionais; b) poder económico-financeiro; e c) o "soft power" - o poder de influenciar através do exemplo. As guerras envolvem sempre o uso deliberado de um outro tipo de poder - a força armada. Os decisores e as sociedades que aceitam isto terão surpresas muito desagradáveis. É uma questão de tempo.
José Ramos Andrade
A tensão existente entre a Ucrânia e a Rússia pode afectar o estado económico e social de Portugal?
Não, desde que a Rússia continue empenhada apenas na actual guerra limitada pelo controlo do sudeste da Ucrânia. Moscovo, todavia, continuará a usar a sua influência nas capitais do sul da Europa para moderar os países da Europa central no processo de decisão dos Conselhos Europeus. Os acontecimentos obrigarão quase de certeza Portugal a repensar algumas das suas opções ao nível político-militar no quadro da NATO.
João Pedro Lopes
Perante a nova aliança EUA / UE qual o papel que Portugal poderá ter na geopolítica internacional?
É provável que o relacionamento dos EUA com a UE venha a assentar na Parceria Transtlântica para o Comércio e Investimento (TTIP) e de uma forma indireta na NATO. O papel geopolítico de Portugal dependerá: a) da sua permanência na zona euro; b) da sua capacidade para atrair investimentos e ser uma plataforma logística-energética; c) da contribuição para a segurança aero-marítima/naval no Atlântico.
José Miguel Anjos
Quais poderão ser as implicações para a política europeia com o conflito na Ucrânia?
Dependerá muito de: (i) objectivos políticos de Moscovo; (ii) da maneira como Kiev vai reagir a estes objectivos; (iii) da avaliação que as principais capitais europeias e Washington e os seus principais aliados (Japão e Coreia do Sul, por exemplo) vão fazer. Dito isto, o assalto russo à Ucrânia é um choque estratégico para a Europa. Muito daquilo em que as lideranças e as sociedades europeias acreditaram nos últimos vinte anos, está obsoleto.
Rita Almeida Neves
Podemos dizer que actualmente há uma guerra na Europa? Até que ponto poderão chegar as consequências a nível económico, político e militar do confronto na Ucrânia?
Dependerá muito de: (i) objectivos políticos de Moscovo; (ii) da maneira como Kiev vai reagir a estes objectivos; (iii) da avaliação que as principais capitais europeias e Washington e os seus principais aliados (Japão e Coreia do Sul, por exemplo) vão fazer. Dito isto, o assalto russo à Ucrânia é um choque estratégico para a Europa. Muito daquilo em que as lideranças e as sociedades europeias acreditaram nos últimos vinte anos, está obsoleto.
Gonçalo Lopes de Andrade
Enquanto especialista em relações internacionais como vê o conflito entre a Ucrânia e a Rússia?
Como um excelente exemplo da importância da geografia na política internacional. Ninguém deve falar sobre o assunto sem ter bons conhecimentos geográficos; (ii) Como uma tragédia para a Ucrânia - o território mais sangrento da Europa no século XX; (iii) O conflito porá quase de certeza fim ao processo de desnuclearização na Europa e a nível internacional. Kiev prescindiu do seu arsenal nuclear a troco de garantias de segurança da Rússia e dos EUA. Será que o assalto à Crimeia e a guerra limitada a que estamos a assistir no sudeste da Ucrânia teria tido lugar se Kiev tivesse o seu arsenal nuclear? (iv) Como um sinal de forte consolidação do poder interno de Vladimir Putin e dos seus aliados. É possível que Dmitri Medvedev seja afastado do cargo de Primeiro-Ministro nos tempos mais próximos; (v) A orientação política e económica da Rússia será mais asiática; (vi) Por fim, como um sinal do isolamento internacional da Rússia. Quantos alunos da Universidade de Verão querem ir estudar para a Rússia? Suspeito que muito poucos. Se falarmos dos países europeus, dos EUA, da Coreia do Sul ou da China, as respostas devem ser muito diferentes.
Pedro Carvalho Esteves
Quais as perspectivas em matéria geopolítica e geoestratégica dos conflitos na guerra do Médio Oriente?
As perspectivas são penosas. Uma parte substancial da resposta depende muito do que a Arábia Saudita e o Irão vão fazer. A rivalidade geopolítica e religiosa entre estas duas potências regionais explica muito do que estamos a ver. A outra parte, dependerá muito da capacidade de os governos satisfazerem as necessidades e as aspirações de uma população muito jovem. A importância do Médio Oriente em Portugal parece-me ser exagerada.
Ana Carvalho
Sendo da área de relações internacionais, como vê o processo de internacionalização das PME's em Portugal? Considera isso um caminho indispensável para o sucesso?
A margem de manobra e a influência internacional depende sempre da capacidade de um país criar riqueza. Portugal precisa de atrair muito mais investimento directo estrangeiro e criar uma ecologia política e económica que permita às suas PMEs crescer e exportar para novos mercados. Correndo o risco de simplificar, isto exige pelo menos duas coisas - (i) acesso a financiamento a um preço igual ou parecido com as outras PMEs da zona euro; (ii) a sobrevivência da globalização. Dito de outra forma, as regras da ordem internacional económica são muito importantes para nós.
Sara Garcez
No actual contexto e tendo em conta a sua passagem na Fundação Luso Americana para o Desenvolvimento, qual é a sua visão relativa à relevância deste tipo de organizações?
A FLAD foi e é uma instituição indispensável para a defesa dos interesses permanentes de Portugal no seu relacionamento com os Estados Unidos da América;